“Como Fazer um Filme de Amor” deveria se chamar “Como Fazer uma Novela Mexicana” ou, no mínimo, caso quisesse realmente fazer jus a seu título, deveria deixar claro em seus minutos iniciais que está satirizando romances da primeira metade do século passado. Afinal, ainda que os clichês que José Roberto Torero desconstrói em seu filme possam ser identificados em produções atuais, hoje eles assumem formas bem diferentes das apresentadas pelo diretor.
Escrito por Torero em parceria com Luiz Moura, o longa tem a proposta de explicar ao público como um filme romântico é estruturado, da concepção da personagem principal à reviravolta que muda o rumo da trama. Quem tem o hábito de assistir a romances e comédias românticas, especialmente aqueles feitos em Hollywood, sabe que hoje esses gêneros pouco têm a oferecer em originalidade, graças ao uso freqüente da mesma fórmula: um relacionamento improvável corre às mil maravilhas até determinado ponto da história, quando alguma discórdia entre os pombinhos os separa, somente para no fim eles fazerem as pazes e terem certeza de que foram feitos um para o outro.
Hoje em dia, são muito raros os filmes que não seguem esse caminho. Só que Torero parece ignorar o fato de que a platéia já sabe identificar os clichês que ele pretende revelar. Pior ainda, ele torna sua sátira anacrônica, já que estabelece a história nos dias atuais, mas a trata como se fosse contada décadas atrás. Utilizando termos como “a mocinha e o herói do filme” e até mesmo letreiros e adereços de tela bregas e antiquados, Torero parece acreditar que sua platéia é formada apenas por pessoas idosas ou seguidores de novelas melodramáticas, sem nem ao menos respeitar sua inteligência, já que faz questão de explicar tudo o que acontece na tela através da narração de Paulo José.
Apenas alguns momentos isolados funcionam, como aquele em que o filme é interrompido pelos “créditos finais”, a seqüência que se passa em um restaurante e a reencenação da cena de sexo entre os personagens principais. E se o filme se torna agradável por algum instante, é graças ao carisma de Denise Fraga e Cassio Gabus Mendes. Contudo, o humor rasteiro e os trocadilhos baratos que permeiam 90% dos diálogos são capazes de trocar risadas por expressões de desânimo no rosto do espectador. Isto para não dizer revolta, caso alguém não esteja disposto a levar na esportiva as piadas de cego feitas com a mãe da protagonista.
“Como Fazer um Filme de Amor” não chega a ser uma ofensa cinematográfica como o recente “Uma Comédia Nada Romântica”, mas também não oferece razões para ser elogiado. A proposta de Torero pode até ter sido bem intencionada, mas poderia ter rendido um resultado mais interessante se fosse desenvolvida como, por exemplo, um documentário comparando romances de diversas épocas, a fim de identificar a evolução dos clichês. Aí, sim, Torero poderia encontrar uma forma de nos apontar elementos que não se tornaram evidentes aos nossos olhos com o passar do tempo.
Como Fazer um Filme de Amor (2004, Brasil). Direção de José Roberto Torero. Com Denise Fraga, Cassio Gabus Mendes, Marisa Orth, André Abujamra, Paulo José.
O DVD
Distribuído pela VideoFilmes, “Como Fazer um Filme de Amor” é apresentado em um disco simples, com duas opções de formato de tela, fullscreen e widescreen letterbox, selecionáveis em um menu. O áudio em português pode ser ouvido em 2.0 ou 5.1 canais.
Os extras incluem uma faixa de comentários com o diretor e roteirista José Roberto Torero e o co-roteirista Luiz Moura. Os dois muitas vezes se limitam a explicar o óbvio sobre as cenas, como: “Utilizamos essa música para dar uma idéia de passagem de tempo”. Em contrapartida, eles contam diversas curiosidades sobre os bastidores das filmagens.
Outra atração especial é um making of de oito minutos de duração, onde podemos ver uma montagem com várias cenas de bastidores e alguns depoimentos do diretor e da atriz Denise Fraga. Completam o disco o trailer do filme e biografias do elenco e de Torero.