Nem Tudo é o que Parece

Assistir a “Nem Tudo é o que Parece” sem conhecer o cinema de Martin Scorsese é o mesmo que ver “Kill Bill” sem noção alguma sobre os filmes de kung fu homenageados por Quentin Tarantino: não tem a mesma graça. Este primeiro trabalho do britânico Matthew Vaughn na direção contém tantas referências a filmes como “Caminhos Perigosos”, “Cassino” e “Os Bons Companheiros” (este principalmente), que quase parece resultado de um elaborado plágio.
A história é centrada em um traficante (Daniel Craig), cujo nome nunca é revelado, que largou o trabalho sujo, mas se vê obrigado a voltar quando dois malandros tentam enganar um chefão da máfia (Michael Gambon), sumindo com uma enorme carga de ecstasy.
O título original, Layer Cake, refere-se a uma torta de várias camadas, símbolo de que, no submundo do crime, sempre existe algo pior mais embaixo. Aqui, é exatamente isso que você acompanha na medida em que a narrativa se desenvolve por meio de reviravoltas. E como todo bom gângster, nenhum dos personagens pode ser considerado 100% confiável.
Vaughn está acostumado ao “gênero” máfia. Ele é parceiro de Guy Ritchie e produziu seus melhores filmes: “Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes” e “Snatch: Porcos e Diamantes”. Mas o estilo de direção de Vaughn é diferente. Enquanto Richie gosta de usar mais trucagens e efeitos de câmera, Vaughn é mais sério e opta por uma filmagem um pouco mais clássica e menos frenética.
Fica claro que o diretor usa a cartilha Scorsese de cinema como referência. Basta observar, por exemplo, o uso de planos-seqüências (há um idêntico, em que a câmera persegue Daniel Craig) e também o tipo de montagem. Além disso, a narração em off, com o protagonista nos “ensinando” sua profissão, e as subtramas dos personagens secundários são elementos que só fortalecem a semelhança de “Nem Tudo é o que Parece” com seus primos americanos.
E eu já mencionei como Vaughn encaixa as músicas em seu filme? As duas canções mais marcantes são “Ordinary World”, do Duran Duran, que surge quando um amigo de Craig espanca um sujeito numa cafeteria; e “Gimme Shelter”, dos Rolling Stones, mais um elemento que remete imediatamente a Scorsese (lembra-se de “Jumpin’ Jack Flash” em “Caminhos Perigosos”?).
Mesmo parecendo uma imitação, “Nem Tudo é o que Parece” funciona perfeitamente. O roteiro de J.J. Connolly (também autor do livro no qual o longa é baseado) é bem amarrado, o que só beneficia Vaughn na condução das cenas. Pode não ser uma inovação como filme de gângster, mas é um trabalho que honra suas influências.
Nem Tudo é o que Parece (Layer Cake, 2004, Reino Unido). Direção de Matthew Vaughn. Com Daniel Craig, Tom Hardy, Jamie Foreman, Sally Hawkins, Sienna Miller e Michael Gambon.
O DVD
O DVD não foi avaliado para esta resenha. De acordo com informações da Sony Pictures Home Entertainment, estas são as características do disco:
Formato de tela: widescreen anamórfico 2.40:1
Áudio: Dolby Digital Surround 5.1, nos idiomas Inglês, Português e Espanhol
Legendas: Inglês, Português e Espanhol
Extras: Final Alternativo; Comentário do Diretor e do Roteirista; Cenas Excluídas e Cenas Estendidas com Comentários Opcionais do Diretor; Comparações de Storyboard (sem legendas); Perguntas e Respostas com Matthew Vaughn; Daniel Craig; Making Of; Galeria de Pôster; Videoclipe de FC/Kahuna (sem legendas)