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"Bubble" requentado

Enquanto preparo minha resenha de “Superman – O Retorno”, vou requentar alguns textos. Aproveitando a estréia de “Bubble” no último fim de semana, aí está de novo o que escrevi sobre o filme (post original: 27/03/2006).

Menos é mais

Creepy dolls.O que é um filme minimalista? Por definição, podemos dizer que se trata daquele tipo de filme que deixa para o espectador o prazer de participar de sua construção de sentido. A chave é a economia de informações, de diálogos e até mesmo de atuações, permitindo assim que o espectador interprete o que vê. É isto que você encontra em “Bubble”, de Steven Soderbergh.

Este é aquele filme que foi lançado simultaneamente em cinema, DVD e TV a cabo nos EUA, no começo do ano. Mas mais importante do que saber se essa estratégia deu certo ou não deu (aparentemente, não deu), é observar como Soderbergh compôs este pequeno conto.

A câmera permanece posicionada em algum canto do cenário em grande parte das cenas. Há poucos closes e praticamente nenhum movimento. As únicas intervenções do diretor acontecem em duas cenas (uma no meio, outra no final), apenas para dar uma “dica” sobre o que está por vir e o que aconteceu entre elas. Nas outras, pode-se ver como os atores fazem parte dos quadros da mesma forma que móveis, vasos, pinturas… Os objetos de cena também se convertem em personagens e devem ser levados em consideração da mesma forma que os atores, pois podem dizer muito sobre o que está acontecendo.

Os atores, aliás, não estão ali para aparecerem. Eles não têm que transparecer o que sentem, não têm que se expressar. Quando a câmera está em seus rostos, eles dificilmente demonstram alguma emoção, porque incutem esse processo. Eles são os personagens, mas o espectador é que vai interpretar o que eles sentem, quais são suas intenções, se eles estão mentindo ou dizendo a verdade. Isto é algo fundamental para que se “entenda” o filme, já que a base do “mistério” da trama é justamente a dubiedade.

A história é simples, chega a ser idiota no final das contas. Mas “Bubble” não é a história. O filme foi vendido como “outra experiência de Steven Soderbergh” e de fato ele é isto. Não à toa, foi escrito por Coleman Hough, mesma roteirista de “Full Frontal”, filme que, provavelmente, foi onde o diretor mais experimentou até agora (não vi alguns de seus filmes pós-“Kafka” e pré-“Irresistível Paixão”). “Bubble”, contudo, é mais centrado, pois nele Soderbergh não está apenas brincando. É como se fosse seu primeiro trabalho em uma aula de pintura, na qual ele escolhe uma técnica e com ela explora suas habilidades.

Aliás, esta é uma das qualidades que mais aprecio no cineasta: sua capacidade de se reinventar. Do blockbuster ao filme que quase ninguém viu, ele parece ser um diretor estreante a cada trabalho. Soderbergh pode ter escolhido não adotar um estilo único que defina seu cinema, mas a cada um em que ele se arrisca, podemos esperar por, pelo menos, algo acima da média. Então, que venham mais experiências.

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