É muito fácil exagerar em uma atuação, como Nicholson fez em “Questão de Honra” e “Melhor é Impossível”, ambas recebidas com láureas e recompensadas com indicações a diferentes prêmios. Me lembro na cena do julgamento, na parte onde a famosa frase “You can’t handle the truth!” aparece, Nicholson chega a mostrar todos os dentes para o personagem de Tom Cruise, quase mastigando o mesmo e metade do cenário. Não estou tentando ser engraçado aqui. O ato de mostrar a maioria dos dentes é um ato de agressão no reino animal. Nicholson estava apenas mostrando quem é o macho-alfa naquela situação, impondo-se sobre o advogado interpretado por Cruise. Isso não é um ato planejado durante a concepção do personagem. Esses pequenos detalhes são uma espécie de canalização que Nicholson faz e continua fazendo até hoje (apesar que na grande maioria dos filmes que Nicholson fez por dinheiro, ele não estava interpretando ninguém mais além dele mesmo). O mesmo exemplo serve para Al Pacino em “Scarface” ou “O Advogado do Diabo”. Grandes atores, atuações exageradas.
São interpretações ruins? Não.
A atuação de Matt Damon em “O Bom Pastor” é exatamente o oposto do exagero. Damon contém tanto o personagem, que tem que abdicar de tantas coisas como uma vida comum e até o próprio filho. Durante a única cena que seu personagem se exalta numa discussão com a esposa interpretada por Angelina Jolie, ele nós faz ter pena do coitado, nos fazendo esquecer que aquele personagem é responsável por torturas, assassinatos e outros atos horríveis.
É uma pena que todos tenham passado por cima de uma atuação tão complexa. E é a segunda vez que acontece com Damon esse ano, porque poucos reconheceram a atuação dele em “The Departed”. Uma injustiça. Ainda mais por esses cabeças de vento terem dado uma indicação para o Marky Mark, que continua fazendo o mesmo papel de psicopata que sempre fez.
O Bom Pastor (The Good Shepherd, 2006, EUA), dir.: Robert De Niro – 23 de fevereiro nos cinemas brasileiros.