– Alejandro González Iñárritu, diretor de “Babel”
Das quatro histórias contadas em “Babel”, aquela que considero a principal é a da garota surda-muda Chieko, interpretada pela jovem Rinko Kikuchi. Seu drama sintetiza a mensagem do filme, naquilo que é a importância do toque nas relações humanas.
Privada de dois sentidos que muitas vezes usamos para evitar justamente o contato com o corpo alheio, a garota sente, a partir de certo momento, a necessidade de se relacionar sexualmente com alguém. Transar é a forma mais intensa de comunicação: não é preciso falar nada, só sentir. A cena em que Chieko está numa boate com amigos representa bem essa carência da personagem: no momento em que ela vê sua melhor amiga ficando com um rapaz, a vertigem das luzes que cobrem seus olhos colide com a ausência dos sons e ruídos que não chegam aos seus ovidos. São os lábios, as mãos, os rostos, os corpos se tocando, roçando, esfregando um no outro. Ali, não há palavra que traduza melhor a emoção do que aquilo que a pele, os poros e a língua fazem sentir.
É aquilo que Iñárritu disse acima: quando se toca, não se mente. Quando a gente está com alguém de quem realmente se gosta, é diferente de uma ficada (ainda que a ficada seja boa!). O toque pode dizer muito mais do que se imagina. E o bom é que não precisa de nenhuma cartilha para ser entendido. É claro que o cheiro conta. Uma frase dita (e ouvida) na hora e do jeito certos (ou errados) tem um efeito devastador. E uma imagem sempre disse mais do que mil palavras. Mas o tato… É o tato que faz qualquer um dos outros sentidos funcionar (e nos faz perder o controle sobre eles também). Ironicamente, é também um sentido que não precisamos usar para ver um filme. Mas “Babel”, ao menos, o estimulou: ao assisti-lo, o que mais tive vontade não foi de chorar. Foi de estar abraçado a alguém.
Babel (2006, EUA/México), dir.: Alejandro González Iñárritu – em cartaz nos cinemas
* Citação retirada de entrevista feita pelo crítico Roger Ebert no Festival de Cannes de 2006.