“Número 23” é uma bobagem. Parece que o roteirista Fernley Phillips acreditou que juntar um monte de coincidências númericas era o suficiente para escrever um filme. Enganou-se e junto tenta enganar o espectador. Mas o que surpreende é que este é um filme de suspense… sem suspense! Aí a culpa já é de Schumacher, que não consegue criar uma cena sequer de tensão.
De Jim Carrey eu não esperava muito, não por não gostar do ator (pelo contrário, sou fã do cara), mas por saber que ele não é bom para esse tipo de material dramático. Quando ele pega projetos como “O Show de Truman”, “O Mundo de Andy” e “Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças”, consegue se sair muito bem. O que esses três filmes têm em comum? São dramas, mas seus personagens possuem um lado cômico que Carrey, comediante nato, sabe aproveitar. São filmes feitos para ele. Já em “Cine Majestic” e em “Número 23”, Carrey não tem espaço. E quando tenta encontrar algum, provoca riso involuntário na platéia e é vítima de cenas que beiram o ridículo – aqui, mais uma vez, por culpa de Schumacher, que teve a péssima idéia de maquiá-lo como um detetive obscuro cheio de tatuagens (e que toca saxofone, uau!). Uma coisa simplesmente não combina com a outra.
Admiro a coragem de Carrey de se arriscar em papéis assim. Só espero que este lhe sirva de lição.
Editor-chefe e criador do Cinematório. Jornalista profissional, mestre em Cinema pela Escola de Belas Artes da UFMG e crítico filiado à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e à Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema). Também integra a equipe de Jornalismo da Rádio Inconfidência, onde apresenta semanalmente o programa Cinefonia. Votante internacional do Globo de Ouro.