Terabítia é fruto daquilo que de mais precioso tivemos quando crianças: a imaginação. É um lugar de fuga para os garotos Jess (Josh Hutcherson) e Leslie (AnnaSophia Robb) quando eles querem esquecer os problemas que a realidade lhes impõe, seja a falta de dinheiro em casa, seja as broncas do pai, seja a rejeição dos colegas de escola. O que torna o filme diferente de outros exemplares do gênero (se é que ele se encaixa no mesmo) é que a fantasia é um suporte para a narrativa, e não o seu fio condutor.
Terabítia e suas criaturas fantásticas, entre elas urubus peludos, esquilos guerreiros e trolls gigantes que se disfarçam de árvore, aparecem pouco na tela – uma opção arriscada tendo em vista que o público infantil vem sendo acostumado a procurar por isso no cinema. Mas quero acreditar que as crianças sairão do filme com algo mais: a vontade de também terem um mundo próprio, de soltarem a imaginação e criarem sua própria Terabítia. Algo preocupante na infância de hoje em dia é que tudo já chega pronto para as crianças: videogames, brinquedos eletrônicos, televisão 24 horas… O que sobra para elas criarem? “Ponte para Terabítia” valoriza esse lado da inocência de ser criança, de acreditar ser rei de um lugar encantado, de imaginar (e ver!) monstros te perseguindo e usar superpoderes para enfrentá-los.
A escolha para a criação dos efeitos visuais não poderia ser mais acertada: a Weta Digital, atualmente a principal referência da identidade visual da fantasia no cinema (posto este que por muito tempo foi ocupado pela Industrial Light & Magic). Gabor Csupo também foi uma opção perfeita para a direção. Ele é o criador dos desenhos “Rugrats” e “Os Thornberrys” e nessa estréia no cinema soube ser econômico, além de não apelar para sentimentalismos, algo fundamental em determinada parte da trama. Com roteiro de Jeff Stockwell (outro que já havia trabalhado com o universo infantil/pré-adolescente no ótimo “Meninos de Deus”) e David Paterson, filho da autora do livro original, Katherine Paterson, “Ponte para Terabítia” é um filme corajoso (não é todo dia que se vê uma produção infantil questionar a educação religiosa) que faz rir e chorar. É daqueles para crianças que os pais talvez até gostem mais.