Vendido como “thriller erótico” (definição que traz a mente filmes como “Instinto Selvagem”, “Atração Fatal”, “Ligadas Pelo Desejo” etc.), o longa possui apenas UMA cena de sexo, e mesmo assim entre Berry e um coadjuvante que só volta a aparecer uma vez mais tarde. É o ex-ex-namorado da protagonista – ou deveríamos dizer “fuck buddy”? Os outros momentos mais quentes do filme se passam, por incrível que pareça, em um chat! Lembra-se daquela transa ridícula em realidade virtual de “O Demolidor”, com Sylvester Stallone e Sandra Bullock? Pois é, ela é mais excitante. Incrível…
E só uma (poderiam ser várias, mas vou me ater a esta) sugestão aos roteiristas: quando os dois atores principais estão há duas cenas de transarem, espere essas duas cenas acontecerem! Só então faça o cara descobrir que está sendo enganado. Por mais idiota que pareça, é isso que o público quer ver num filme desses: Bruce Willis e Halle Berry transando. Simples. Ou alguém vai dizer que “Instinto Selvagem” teria feito tanto sucesso se Sharon Stone não tivesse descruzado as pernas e cavalgado em Michael Douglas? Chega a ser engraçado, porque Willis leva a fama de garanhão, mas não pega ninguém. O coadjuvante de duas cenas vai contar vantagem para o resto da vida.
De toda forma, a frigidez de “A Estranha Perfeita” até poderia ser perdoada se a história contada fosse boa. Não é. E ainda termina com a típica reviravolta que tenta pegar o espectador com as calças nas mãos. Nas menores coisas, o filme também falha. O que dizer da habilidade da protagonista em lidar com um computador? Não sabe como desligar um monitor, afirma que é “virgem em chats” (pfff!), mas consegue instalar um spyware em um notebook (aposto que muitos que estão lendo este texto sequer sabem o que é um spyware)? Francamente…
Acho que é meu dever dar nomes aos bois, até porque é bom alertar o leitor sobre as pessoas responsáveis por essa dissimulação em película: a direção é de James Foley (que fez o policial legal, mas meia-boca “Confidence” e o suspense “Medo”, aquele com Marky Mark e Reese Witherspoon em início de carreira), o argumento é de Jon Bokenkamp (que escreveu outra bomba chamada “Roubando Vidas”) e o roteiro é de Todd Komarnicki (“Amor e Guerra”, um drama de guerra do qual eu nunca tinha ouvido falar até agora, pelo que fico imensamente grato). Com essas credenciais, já não era de se esperar muito. E o resultado ainda fica um degrau abaixo…
A Estranha Perfeita (Perfect Stranger, 2007, EUA), dir: James Foley – em cartaz nos cinemas