A história que deveria nos contar a origem de Hannibal Lecter, a criação genial de Thomas Harris, encarnada com maestria por Anthony Hopkins e considerado o maior vilão da história do cinema pelo American Film institute é pura enrolação.
Partindo-se da direção frouxa de Peter Webber e do roteiro preguiçoso do próprio Thomas Harris, “Hannibal – Por Trás da Máscara” comete a besteira de escalar Gaspard Ulliel como o jovem Hannibal. Ulliel não tem metade do talento de um dedinho do pé de Anthony Hopkins. Enquanto o Hannibal Lecter de “O Silêncio dos Inocentes”, “Hannibal” e “Dragão Vermelho” é motivo de pesadelos, a sua encarnação através de Ulliel é motivo de risos e bocejos. O roteiro é mal cadenciado, não permitindo que em nenhum momento a tensão se estabeleça e ainda conta com um dos piores finais vistos nos últimos anos.
Talvez fosse necessário um diretor com pulso forte para nos levar na jornada que transformou um homem em um monstro. Jonathan Demme não tinha medo de nos mostrar como era o verdadeiro Hannibal Lecter, algo que faz sem pudor no único momento de violência que Lecter comete durante todo o filme ao atacar os guardas que o vigiavam. Ao final, quando Lecter está foragido e descobrimos qual será a sua próxima vítima, automaticamente sabemos exatamente qual será seu destino, tudo devido à caracterização de Hopkins e às inteligentes decisões tomadas por Demme.
O mesmo acontecia em “Hannibal”, que apesar de ser mais sangrento consegue também mostrar a monstruosidade do personagem. O filme de Ridley Scott foi um pouco prejudicado pela troca de intérpretes da personagem Clarice Starling, embora Julianne Moore tenha feito um bom trabalho. Assim como Demme, em nenhum momento Scott deixa de mostrar o monstro que Hannibal é.
Peter Webber erra ao tentar humanizar o monstro e ao mesmo tempo mostrá-lo executando vinganças horríveis. Ao tentar nos fazer simpatizar por um psicopata que no futuro cometerá crimes tão hediondos que ganhará o apelido de “O Canibal”, ele acaba por perder o interesse do espectador pelo simples fato de que nada que Lecter fizer será pior do que seus captores fizeram com ele e sua família. A solução seria mostrar uma figura totalmente desfigurada emocionalmente, algo que Ulliel é incapaz de fazer.
Enfim, “Hannibal – Por Trás da Máscara” não é a história que eu gostaria de ter visto do nascimento de um dos personagens mais fascinantes do século XX, tanto na literatura quanto no cinema. Hopkins faz falta. A sua interpretação é inesquecível e insubstituível.
Não perca seu tempo. Assista novamente a “O Silêncio dos Inocentes”, esse sim vale a pena.
Hannibal – Por Trás da Máscara (Hannibal Rising, 2007, EUA), dir.: Peter Webber – em cartaz nos cinemas