Não é um filme tão bom quanto os primeiros do diretor, mas funciona bem como thriller de tribunal e fica melhor ainda com as perfomances de seus atores. O mais interessante da narrativa não é necessariamente o seu desenrolar, mas, sim, o duelo de egos dos dois personagens principais.
De um lado, está o assassino Ted Crawford, interpretado por Anthony Hopkins, que mata a esposa a sangue frio quando descobre que ela o traiu. Preso ainda na cena do crime, ele já tinha um grande plano bolado para provar sua inocência no tribunal, assim, ao ir a julgamento, apenas vê o sistema judicial cair diante de si. Seu adversário é o jovem advogado Willy Beachum, vivido por Ryan Gosling, que se deixa trair pela própria arrogância (seu índice de condenações é de impressionantes 97%) e cai como uma presa indefesa na armadilha do réu. A partir daí, ele entra de cabeça no caso para tentar virar a mesa.
Hopkins está em plena forma aqui e por vezes faz lembrar seu insuperável Hannibal Lecter de “O Silêncio dos Inocentes”, graças ao olhar gelado e às expressões minimalistas que emprega em seu personagem de forma a combinar com seu humor sarcástico. E Gosling novamente mostra que muito em breve deixará de ser uma promessa e se tornará de fato um grande ator.
É verdade que a resolução do roteiro de Daniel Pyne e Glenn Gers poderia surpreender mais (talvez seja o que nós sempre esperamos de filmes como esse), mas o longa consegue prender a atenção através do jogo de Ted, que utiliza as brechas da lei para sair ileso. A briga de nervos que ele trava com Willy poderia ter sido mais explorada se a personagem de Rosamund Pike – uma executiva da poderosa firma de advocacia em que Willy está prestes a ser admitido – não existisse, já que o filme perde seu ritmo justamente nas cenas em que ela aparece. Sem falar que seu romance com Gosling é infrutífero, narrativa e dramaticamente.
A direção de Hoblit é segura e elegante, criando a atmosfera ideal para a história. Uma boa sacada do diretor foi usar como analogia para seus personagens as estruturas de metal arquitetadas pelo personagem de Hopkins. Elas mostram a meticulosidade de Ted e funcionam como o seu plano: uma pequena falha pode levar a bolinha ao chão, ou ele à cadeia. E o mesmo vale para Willy, já que qualquer deslize moral pode comprometer sua promissora carreira.
Um Crime de Mestre (Fracture, 2007, EUA), dir: Gregory Hoblit – em cartaz nos cinemas.
Editor-chefe e criador do Cinematório. Jornalista profissional, mestre em Cinema pela Escola de Belas Artes da UFMG e crítico filiado à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e à Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema). Também integra a equipe de Jornalismo da Rádio Inconfidência, onde apresenta semanalmente o programa Cinefonia. Votante internacional do Globo de Ouro.