No primeiro filme, Danny Ocean, vivido por George Clooney, tem um papel maior, já que é o líder do grupo e os personagens estão sendo estabelecidos. Em “Doze Homens e Outro Segredo”, é a vez de Brad Pitt e seu sempre divertido Rusty Ryan roubarem a cena. Já neste terceiro longa, o membro da gangue que mais se destaca é finalmente o incansável Linus Caldwell de Matt Damon – uma certa recompensa, na verdade, já que, desde que integrou o grupo, ele tenta ser reconhecido por seus esforços.
Nas entrevistas de divulgação, os atores sempre fazem questão de dizer que fizeram o filme por serem amigos e gostarem de trabalhar juntos. Tudo bem, vamos esquecer por um momento os dólares envolvidos nessa festinha particular e acreditar na boa vontade dos camaradas, já que a amizade é de fato a mola mestra da trama de “Treze Homens um Novo Segredo” – amizade esta que os personagens prezam tanto a ponto de Rusty abandonar um elaborado assalto pela metade quando recebe uma ligação de Danny, convocando-o a ajudar o mentor e financiador da gangue, Reuben Tishkoff (Elliott Gould), que foi passado para trás por Willie Bank (Al Pacino), um empresário sem escrúpulos do ramo da hotelaria. Uma vez reunidos, eles planejam uma vingança contra o sujeito, fazendo com que a estréia de seu novo cassino em Las Vegas seja um fracasso.
Além de Clooney, Pitt e Damon, o restante do elenco (que contém atores que você dificilmente vê fora dos filmes da franquia) continua cumprindo sua função e agradando. A preponderância masculina se torna ainda mais óbvia agora, já que Julia Roberts e Catherine Zeta-Jones não voltam (o único papel feminino de destaque é o de Ellen Barkin). Mas a ausência das duas atrizes não é sentida em nenhum momento. Pelo contrário: justamente por elas não aparecerem, mas suas personagens continuarem virtualmente presentes, temos algumas das piadas mais inteligentes do roteiro de Brian Koppelman e David Levien, quando Tess e Isabel são apenas citadas por Danny e Rusty nos diálogos em que um completa o que o outro está dizendo sobre o andamento de seus respectivos relacionamentos.
Por incrível que pareça, minha única ressalva quanto ao elenco é Al Pacino. Eu esperava que ele fosse fazer um vilão mais perverso, só que seu Willie Bank é apenas um sujeito egomaníaco e arrogante, ainda que divertido por isso. Na verdade, o grande problema do personagem é que ele não oferece nenhum grande perigo a Danny Ocean. A graça do filme, portanto, se torna apenas observar como o golpe será efetuado, já que uma solução é encontrada para qualquer tipo de obstáculo, por maior que seja.
É nesse sentido que a história de “Treze Homens e um Novo Segredo” deixa um pouco a desejar em relação às anteriores, pois não surpreende o espectador que vem acompanhando a série. Quando algo dá errado no plano da gangue, por exemplo, você já espera que aquilo, na verdade, faça parte do plano. A trama é engenhosa e divertida como nos outros filmes, mas o roteiro segue a mesmíssima estrutura, o que não deixa de ser um pouco decepcionante, já que não nos pega de surpresa em nenhum momento. Qual fica sendo o tal “segredo”, então, afinal de contas? Saia justa para os tradutores brasileiros.
As piadas internas e auto-referenciais também continuam, como na citação/homenagem a Frank Sinatra, que viveu Danny Ocean no longa original de 1960. E, mais uma vez, os atores cruzam para o lado de cá da tela ao fazerem com que seus personagens assumam suas vidas reais por um momento, só que, agora, de uma forma bem mais contida do que quando vimos Julia Roberts interpretar ela mesma no filme anterior. Basta ver a cena em que Ocean/Clooney faz uma recomendação a Rusty/Pitt sobre sua vida pessoal.
Na direção, Steven Soderbergh também soube manter o mesmo ritmo e estilo com que vem conduzindo a série. Ele continua se divertindo à beça, abusando de panorâmicas e zooms, o que cria uma atmosfera descontraída, bastante propícia ao clima em que a história se desenvolve. Por estar à vontade no set, assim como os atores, o diretor acaba deixando também o público à vontade. E outro ponto que conta a favor do cineasta nesta terceira parte é que, narrativamente, ela flui com mais facilidade do que a segunda (a qual até hoje ainda me deixa perdido em sua trama), já que se concentra em um só plano e em um só lugar, como na primeira. É mais do mesmo, mas um mesmo que não cai na mesmice.
Se você gostou dos filmes anteriores, com este novo irá se sentir em casa. Só não espere abrir a porta e encontrar móveis novos, pois o máximo que irá ver é o sofá reposicionado no canto da sala. Confesso que, por um instante, cheguei a torcer para que Danny e seus amigos se dessem mal e fossem presos desta vez. Assim, ao menos aconteceria algo inédito e teríamos um bom gancho para eles voltarem num próximo filme (que, mais cedo ou mais tarde, parece ser inevitável). Seria também uma forma elegante de fechar a trilogia, cuja primeira cena traz Ocean saindo da cadeia.
Editor-chefe e criador do Cinematório. Jornalista profissional, mestre em Cinema pela Escola de Belas Artes da UFMG e crítico filiado à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e à Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema). Também integra a equipe de Jornalismo da Rádio Inconfidência, onde apresenta semanalmente o programa Cinefonia. Votante internacional do Globo de Ouro.