“Paranóia” consegue alcançar um meio-termo, mas não se engane: não há nada de extraordinário aqui. Trata-se apenas de um suspense com boa carga de tensão, um bom elenco e uma historinha picareta, mas bem resolvida. Muitos dizem que é uma chupação de “Janela Indiscreta”, e eles estão certos. Só não vale falar que D.J. Caruso é o Hitchcock dos adolescentes.
Caruso é um daqueles cineastas que estão fadados ao esquecimento no fim desta década, quando possivelmente já estará fazendo filmes direto para DVD se não conseguir outro sucesso de bilheteria. Ele não tem assinatura. Você vai sair da sala de cinema sem se dar conta de que viu o novo trabalho do mesmo diretor de filmes completamente esquecíveis como “Roubando Vidas” e “Tudo Por Dinheiro”. Se você se lembrar de “Paranóia” algum dia, será única e exclusivamente por causa de Shia LaBeouf, este sim, alguém de quem ainda ouviremos falar muito.
Assim como em outros dois recentes filmes do ator, “Transformers” e “Bobby” (lançados quase simultaneamente no Brasil), neste LaBeouf dá a seu personagem uma energia peculiar com sua fala rápida e a postura altiva. Algo difícil de se encontrar em thrillers feitos para o público jovem é um protagonista carismático que conquiste o espectador e o faça torcer por ele. Felizmente, o rebelde e amargurado Kale de LaBeouf é um desses. Diferente do que costuma acontecer em outros exemplares do gênero, ele não deixa os coadjuvantes roubarem a cena, ainda que Aaron Yoo, que vive o amigo Ronnie, e a bela Sarah Roemer (quase uma sósia de Kate Hudson), que interpreta sua vizinha, estejam bem em seus papéis.
O elenco faz a diferença, pois o que realmente não funciona em “Paranóia” é o roteiro co-escrito por Christopher Landon, também autor do argumento. Ele faz um filme de boas oportunidades perdidas, já que deixa de explorar as possibilidades que o conceito permite – não só o fato de Kale não poder sair do quintal de casa, mas, principalmente, o próprio estado de paranóia que o título indica e que é um tema recorrente hoje, fora das telas. Mas, afinal de contas, quem é esse sujeito para fazer algo parecido com o que Michael Haneke conseguiu em “Caché”, não é mesmo? (Ah, sim, ele é o autor do péssimo “Sangue e Chocolate”…)
O longa ainda é minado por sua fraca conclusão, que cai no lugar-comum do gênero e acaba com o enigmático personagem de David Morse, o vizinho que Kale suspeita ser um assassino em série. Ele chega a lembrar Tim Robbins em “O Suspeito da Rua Arlington” em alguns momentos. Mas, novamente, faço uma comparação da qual “Paranóia” sai perdendo.
Editor-chefe e criador do Cinematório. Jornalista profissional, mestre em Cinema pela Escola de Belas Artes da UFMG e crítico filiado à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e à Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema). Também integra a equipe de Jornalismo da Rádio Inconfidência, onde apresenta semanalmente o programa Cinefonia. Votante internacional do Globo de Ouro.