Tal como “Podecrer!”, “O Magnata” parece ter sido feito para um público acostumado à linguagem de videoclipes e seriados de TV, já que tem seus melhores momentos em cenas isoladas, e não na íntegra de sua trama. Funciona a caracterização dos personagens, com tipos que vão do ameaçador ao cômico, e a interpretação autêntica de seus atores, especialmente no modo de falar. Mas o que há para se elogiar pára aqui.
O longa falha naquilo que poderia ser seu ponto mais interessante: dar ao espectador a oportunidade de conhecer aquele mundo no qual se situa. Numa expectativa das mais otimistas, pode-se desejar que o filme se converta num estudo sobre a cena underground e seus habitantes. Porém, nada disso é encontrado na história que Chorão “concebeu” – aspas necessárias, pois não há nada inédito aqui, apenas uma reformulação da velha trajetória do roqueiro sem limites que chega ao fundo do poço. Há também uma certa contradição no conceito como um todo, já que Chorão sempre foi um crítico dos playboys, e acaba por defender um típico mauricinho metido a punk (interpretado pelo garoto da capa da Capricho Paulo Vilhena). Ora, para quê dar razão à atitude do rapaz mostrando-o como filho de uma mãe alcoólatra (Maria Luísa Mendonça)? O fato de ele não ter vivido numa família estável não basta para justificar sua opção de se tornar um músico rebelde e um criminoso (afinal, rouba carros). Além disso, é um personagem fraco, pelo qual não se consegue criar empatia dada a sua arrogância, e que no primeiro momento em que se vê em risco vira um coitadinho e pede o colo da mamãe. Grande punk!
“O Magnata” ainda é prejudicado pelo próprio ego inflado de Chorão, que não hesita em propagandear sua pista de skate e, claro, sua banda. Em mais uma prova de sua contradição, ainda aparece fazendo ponta numa festa de riquinhos à beira mar. E por falar em ponta, o filme conta com sua dose de excentricidade ao trazer participações especiais de Tiririca (sim!), Marcos Mion, Marcelo D2 e Marcelo Nova (como a consciência do protagonista).
O visual das cenas é atraente de forma geral, mas Johnny Araujo não demonstra em nenhum momento ser um cineasta. Na verdade, toda sua técnica e experiência adquirida na carreira publicitária e musical serve apenas para a criação de um videoclipe de uma hora e meia de duração, já que, no fundo, no fundo, tudo poderia ser resumido em uma música do Charlie Brown Jr. – formato que, talvez, fosse mais adequado à história. Assim ela poderia ser consumida rapidamente como os vários hits fast-food da banda.
direção: Johnny Araujo; com: Paulo Vilhena, Rosanne Mulholland, Maria Luisa Mendonça, Chico Diaz, Juliano Cazarré, Priscila Sol, Chivitz, Milhem Cortaz; roteiro: Chorão, Bráulio Mantovani, Messina Neto, Carlos Cortez, Danilo Gullane; produção: Caio Gullane, Fabiano Gullane, Debora Ivanov, Paulo Ribeiro; fotografia: André Modugno; montagem: Rodrigo Menecucci; música: Charlie Brown Jr.; estúdio: Gullane Filmes; distribuição: Buena Vista Internacional. 102 min
Editor-chefe e criador do Cinematório. Jornalista profissional, mestre em Cinema pela Escola de Belas Artes da UFMG e crítico filiado à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e à Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema). Também integra a equipe de Jornalismo da Rádio Inconfidência, onde apresenta semanalmente o programa Cinefonia. Votante internacional do Globo de Ouro.