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Crítica: “Podecrer!”

"Podecrer!" (2007), de Arthur Fontes - Divulgação

"Podecrer!" (2007), de Arthur Fontes - Divulgação

Não existe nada em “Podecrer!” que você já não tenha visto em outras comédias sobre um grupo de alunos nas vésperas de ir para a faculdade. Ainda assim, é um filme cativante e divertido, que curiosamente funciona melhor quando não segue um enredo. Na maior parte do tempo, a narrativa acontece em episódios: existe uma linearidade, mas não uma trama geral desenvolvida no tradicional início-meio-fim. Nesse sentido, aproxima-se de um seriado de TV, mas somente naquilo que há de positivo nesse formato, já que as situações criadas são simples e vão direto ao ponto da graça que pretendem (em especial aquelas que envolvem o triângulo amoroso formado por Gregorio Duvivier, Fernanda Paes Leme e Silvio Guindane – este, sem dúvidas, o ator mais à vontade com seu personagem).

O aspecto nostálgico do longa tem um ponto a favor com o público adulto, apesar de não ser 100% aproveitado. A trilha sonora é ótima – combinando hits nacionais e estrangeiros da época com música original do ex-Legião Urbana Dado Villa-Lobos – mas, no geral, a cultura pop oitentista não é evidenciada. Em certos momentos, não parece fazer diferença se o filme acontece em 1981 ou 2007, exceto pela ausência do aparato tecnológico dos dias atuais. Existe ali, contudo, uma representação fiel (ainda que maniqueísta) dos ideais de três décadas atrás, com João (Dudu Azevedo) e Carol (Maria Flor) como os últimos românticos, e Tavico (Marcelo Adnet) e Duda (Julia Gorman) partindo rumo a um futuro mais pragmático.

Quando decide finalmente se concentrar em uma história, o roteirista estreante Marcelo O. Dantas (também autor do livro no qual o filme é baseado) não consegue escapar dos clichês do gênero (exemplo mais evidente: a menina que precisa precisa falar algo importante para o namorado, mas o pega dando bola para outra). O desfecho, com os batidos rótulos “Fulano se tornou tal coisa e hoje vive em tal lugar”, também prejudica o que vinha sendo uma boa experiência – em grande parte construída por mérito da direção bastante dinâmica de Arthur Fontes (“Surf Adventures – O Filme”), que, junto com o diretor de fotografia Gustavo Hadba (“O Caminho das Nuvens”; “Seja o Que Deus Quiser”), também sabe extrair a beleza sem igual da granulação extrema das imagens em Super 8.

Alguns problemas de montagem (em determinado momento, dois personagens estão resolvendo uma situação em um lugar e, um corte depois, já estão em outro como se a cena anterior não tivesse existido) impedem que “Podecrer!” seja um filme acima da média, até mesmo de comédias semelhantes feitas em Hollywood. Mas da mesma forma despretensiosa com que chegou aos cinemas, pode ser visto sem grandes expectativas. Talvez seja nisso que se beneficie mais.

Nota:
Podecrer! (2007, Brasil)
direção: Arthur Fontes; com: Maria Flor, Dudu Azevedo, Gregorio Duvivier, Silvio Guindane, Marcelo Adnet, Fernanda Paes Leme, Liliana Castro, Erika Mader, Julia Gorman, Malu Mader, José de Abreu, Stepan Nercessian; roteiro: Marcelo O. Dantas (baseado no livro homônimo de sua autoria); produção: Arthur Fontes; fotografia: Gustavo Hadba; montagem: Marcelo Moraes; música: Dado Villa-Lobos; estúdio: Conspiração Filmes; distribuição: Sony Pictures. 94 min
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