Não bastasse ser também um ótimo diretor de atores (quantos realmente conseguem tirar uma boa atuação de Julia Roberts?), Nichols se certifica de se cercar de um bom elenco. Além de contar com coadjuvantes de luxo como Philip Seymour Hoffman, Ned Beatty, Amy Adams e Emily Blunt (que não precisa abrir a boca para fazer cair o queixo da rapaziada em sua curta participação), Nichols coloca Tom Hanks em um papel inusual em sua carreira. O ator abre mão da habitual diplomacia para viver um sujeito que, logo na primeira cena, aparece nu em uma banheira, cercado por strippers (nuas também, claro). E, ainda por cima, ele assume cheirar coca. Definitivamente, este não é o Hanks que estamos acostumados a ver (aliás, creio que eu não estou só por preferir Hanks em atuações mais soltas como essa).
Ao mesmo tempo em que faz rir, graças à ironia e ao sarcasmo (em especial nas cenas entre Hanks e Hoffman), o filme se ocupa de fazer um comentário sobre a situação que se deflagrou no Oriente Médio com a política intervencionista americana ao longo das décadas. O título brasileiro pode não ter nada a ver com o original, “Charlie Wilson’s War”, mas faz sentido com o que vemos na tela. Além disso, essa “tradução” é uma óbvia tentativa do distribuidor de evocar “Segredos do Poder”, outro filme do mesmo Mike Nichols, sobre a mesma Casa Branca, lançado dez anos atrás.
direção: Mike Nichols; com: Tom Hanks, Philip Seymour Hoffman, Julia Roberts, Amy Adams, Shiri Appleby, Rachel Nichols, Mary Bonner Baker, Emily Blunt, Om Puri, Ned Beatty; roteiro: Aaron Sorkin (baseado no livro de George Crile); produção: Gary Goetzman, Tom Hanks; fotografia: Stephen Goldblatt; montagem: John Bloom, Antonia Van Drimmelen; música: James Newton Howard; estúdio: Universal Pictures, Playtone; distribuição: Paramount/Universal Pictures. 97 min
Editor-chefe e criador do Cinematório. Jornalista profissional, mestre em Cinema pela Escola de Belas Artes da UFMG e crítico filiado à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e à Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema). Também integra a equipe de Jornalismo da Rádio Inconfidência, onde apresenta semanalmente o programa Cinefonia. Votante internacional do Globo de Ouro.