No recente “O Olho do Mal”, chegaram a trocar a nacionalidade da assombração, mas ao invés de torná-la americana, mantiveram-na do outro lado da fronteira. E que fronteira: a do México. Assim como em “O Grito”, em “Imagens do Além” os personagens principais viajam para o Japão, e lá está a fonte de sua desgraça. Um outro filme recente, mas que não é remake, “A Colheita do Mal”, também vai pelo mesmo caminho. O problema, na verdade, é fácil de identificar: a praga da xenofobia, o estrangeiro é a causa do medo. Será que o cinema de terror americano anda tão impotente (salvo raríssimas exceções) que não consegue nem mesmo contar com seus próprios fantasmas?
Mas vamos ser rápidos e diretos sobre este “Imagens do Além”, tudo bem? Não existe motivo algum para essa refilmagem ter sido feita a não ser faturar algum dinheiro nos cinemas americanos (e se bobear, nem pra isso serviu). O original, “Espíritos – A Morte Está ao Seu Lado”, já nem era lá grandes coisas e a versão americana apenas reproduz, ou melhor, copia até os mesmos planos – cortesia do pouco conhecido diretor Masayuki Ochiai, que escolheu uma péssima forma de estrear no ocidente. Ele parece uma daquelas pessoas que diz que ouviu uma boa história, mas quando vai contá-la para os outros, perde completamente o timing e nunca consegue contar do mesmo jeito. Resultado: cenas de sustos que você prevê minutos antes, uma narrativa apressada que não desenvolve seus personagens (nem mesmo os principais) e uma reviravolta que soa ainda mais forçada que a original por tentar proteger o protagonista.
Eu não acho produtivo escrever apenas para falar mal sobre um filme. Portanto, é melhor parar por aqui e me concentrar no próximo texto. Só fico pensando na reação das pessoas que viram “Espíritos” e entraram no cinema desavisadas de que “Imagens do Além” é uma refilmagem. Afinal, em nenhum lugar do cartaz ou do trailer está escrito isso. Devo estar sendo até bondoso neste texto perto do que esses espectadores devem ter falado quando perceberam que foram enganados.
direção: Masayuki Ochiai; com: Joshua Jackson, Rachael Taylor, Megumi Okina, David Denman, John Hensley; roteiro: Luke Dawson; produção: Doug Davison, Takashige Ichise, Roy Lee; fotografia: Katsumi Yanagishima; montagem: Timothy Alverson, Michael N. Knue; música: Nathan Barr; estúdio: Ozla Pictures, Regency Enterprises, Vertigo Entertainment; distribuição: 20th Century Fox. 85 min
Editor-chefe e criador do Cinematório. Jornalista profissional, mestre em Cinema pela Escola de Belas Artes da UFMG e crítico filiado à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e à Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema). Também integra a equipe de Jornalismo da Rádio Inconfidência, onde apresenta semanalmente o programa Cinefonia. Votante internacional do Globo de Ouro.