“Sicko – $.O.$. Saúde” não é tão incisivo quanto “Tiros em Columbine” ou eloqüente quanto “Fahrenheit 11 de Setembro”, mas, ainda assim, é provocativo, satírico e revoltante – como todo filme de Michael Moore. No entanto, ele não parece ter caprichado tanto desta vez.
Moore não é famoso por sua habilidade investigativa, já que muitas vezes acaba até mesmo sendo acusado de forjar provas. E em “Sicko”, essa limitação do cineasta está mais evidente, porque sente-se falta de uma investigação que vá mais a fundo no problema que atinge os usuários de planos de saúde dos EUA e envolve a indústria farmacêutica.
Na primeira metade do filme, Moore ataca frontalmente a relação do governo americano com as empresas, mas não responde a muitos porquês. Ele denuncia, mas não nos fornece um levantamento consistente de dados e fatos. E suas provas não convencem tanto quanto em seus dois filmes anteriores – basta citar a cena em que ele usa uma suposta gravação em fita-cassete de uma conversa particular do ex-presidente Richard Nixon. Não, ele não precisa dizer como conseguiu aquela fita. Mas qualquer pessoa um pouco mais desconfiada pode duvidar se aquela conversa não foi manipulada, já que é quase impossível entender o diálogo sem o auxílio das legendas. O ponto, na verdade, não é que Moore possa ter mentido, mas, sim, que ele tenha deixado margens para esse tipo de suspeita.
Mais tarde, quando Moore parece perceber que não tem mais onde cavar, ele parte para uma série de comparações. Basicamente, ele passa a segunda hora tentando responder “Por que o Canadá, a Inglaterra, a França e Cuba são melhores do que os EUA?” Ele praticamente faz uma propaganda migratória para esses países (como se já não houvesse motivos suficientes para nós, brasileiros, sentirmos vontade de sair do país). E não é curioso que Londres pareça ser um lugar tão bom para se viver, quando outros filmes, mesmo os britânicos, insistem em mostrar a capital inglesa em cenários apocalípticos?
De qualquer forma, Moore consegue entreter, provavelmente sua melhor qualidade como cineasta. O texto é muito bem escrito, tem ironia e tiradas que deixam muitos comediantes no chinelo. Além disso, ele novamente cria situações inusitadas – a melhor delas sendo a viagem a Cuba, com a passagem pela baía de Guantánamo – e se converte ele mesmo em um ator para o propósito do que quer transmitir ao público.
Em “Sicko”, Moore está tão manipulador quanto antes. É um panfleto, sim. E não há nada de errado nisso, uma vez que ele se assume como tal. Mas se antes ele já conseguiu reunir uma multidão ao seu redor ao subir com seu megafone em um palanque no meio da praça, desta vez seu discurso perdeu um pouco da força que motiva as pessoas que estão passando a pararem para ouvi-lo – a não ser pelo simples fato de ser um filme de Michael Moore.
direção: Michael Moore; roteiro: Michael Moore; produção: Michael Moore, Meghan O’Hara; montagem: Geoffrey Richman, Chris Seward, Dan Swietlik; música: Erin O’Hara; estúdio: Dog Eat Dog Films, The Weinstein Company; distribuição: Europa Filmes. 123 min