Mas se por um lado temos “As Crônicas de Nárnia”, “Eragon” e “Os Seis Signos da Luz”, por outro temos filmes que mantém o foco na narrativa e não distraem o espectador com um detalhismo desnecessário. No ano passado, tivemos o ótimo “Ponte Para Terabítia”, que na verdade tem apenas um pé no gênero. Já “As Crônicas de Spiderwick” é 100% o que se chama de aventura infantil, e se aproxima de filmes que nós, adultos, adorávamos (e ainda adoramos alguns deles), como “Labirinto – A Magia do Tempo”, “Os Goonies”, “Willow – Na Terra da Magia”, “História Sem Fim”.
Não há muita cerimônia para entrar na história baseada na série de livros homônima: três irmãos se mudam com a mãe para a casa do avô. Dois deles são gêmeos (ambos vividos por Freddie Highmore): um é mais “certinho”, o outro mais rebelde (clichê? Sim, sem dúvidas). O segundo é o protagonista e aquele que encontra um livro secreto do avô, que passou a vida pesquisando seres de uma dimensão paralela que só se mostram para os humanos quando querem. Essas criaturas precisam do livro para se libertarem e o garoto precisa proteger sua descoberta para, assim, manter sua família segura.
Como o menino enxerga os bichos? Através de uma pedra com um orifício no meio. E como ele destrói seus inimigos? Jogando molho de tomate neles. Da mesma forma, um goblin guardião do livro precisa beber mel para se acalmar e, de um mini-ogro, voltar a ser um pigmeu rosado de feições bondosas. Não tem mistério, é tudo simples – assim como você não se pergunta por que alimentar Gremlins depois da meia-noite é perigoso, nem por que não pode deixá-los se molharem. Você apenas diz supercallifragilisticexpialidocious e a magia está feita.
O filme tem problemas, é claro. A trama, no fundo, não preza pela originalidade, apesar de se resolver bem no conflito filho vs. pai ausente – um tema genuinamente spielbergiano, e não por acaso, já que colaboradores do cineasta, como os produtores Frank Marshall e Kathleen Kennedy e o montador Michael Kahn estão na equipe. Por outro lado, diferente de Spielberg, a direção de Mark Waters, apesar de se segurar, não possui muita personalidade. Por isso, provavelmente “As Crônicas de Spiderwick” não será lembrado daqui a 20 anos, mas, pelo tempo que dura, é garantia de ao menos uma diversão inocente, bem mais sincera do que outros títulos do gênero que tentam ser mais espertos que seu público.
direção: Mark Waters; com: Freddie Highmore, Sarah Bolger, Nick Nolte, Mary-Louise Parker, Joan Plowright, David Strathairn, Seth Rogen (voz), Martin Short (voz); roteiro: Karey Kirkpatrick, David Berenbaum, John Sayles (baseado no livro de Tony DiTerlizzi e Holly Black); produção: Larry J. Franco, Ellen Goldsmith-Vein, Albie Hecht, Karey Kirkpatrick, Julia Pistor, Ellen Goldmith Vein; fotografia: Caleb Deschanel; montagem: Michael Kahn; música: James Horner; estúdio: The Kennedy/Marshall Company, Nickelodeon Movies; distribuição: Paramount Pictures. 97 min
Editor-chefe e criador do Cinematório. Jornalista profissional, mestre em Cinema pela Escola de Belas Artes da UFMG e crítico filiado à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e à Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema). Também integra a equipe de Jornalismo da Rádio Inconfidência, onde apresenta semanalmente o programa Cinefonia. Votante internacional do Globo de Ouro.