Parece que, em Toronto, quem viu gostou também. E por aqui, a não ser por quem comparecer à noite de abertura do Festival do Rio no próximo dia 25 ou por quem mora em Jundiaí (onde o filme foi “lançado” com quase dois meses de antecedência só para se habilitar para o Oscar), só saberemos se Bruno Barreto acertou a mão lá para fins de outubro. Dureza.
Torço para que o filme seja bom e, se for possível, traga logo o Oscar para cá. Mas diante de tanta diversidade na lista dos filmes inscritos para a seletiva, estava difícil querer que logo “Última Parada 174” fosse selecionado. O problema pré-concebido com o filme é que ele não parece ter nada de “novidade”. Vai ser o novo “Pixote” – mas “Querô” já não tentou isso? Vai contar a história por trás do rapaz que virou notícia do dia para a noite – mas “Ônibus 174” já não fez isso, e com autoridade?
Mas antes Barreto do que Babenco, que nem filme brasileiro fez em “O Passado”. Se a escolha foi pautada pelo nome do diretor, ao menos a comissão foi sensata. Já pensaram: um filme que nem é falado em português representando o país? A Argentina não tem candidato próprio?
“Chega de Saudade” é uma delícia de se ver e, por lembrar um filme de Robert Altman, acredito que bateria legal junto aos membros da Academia. Mas “Mutum”, especialmente, é o tipo de filme que mostra um Brasil escondido, quase invisível, que é retratado de forma muito sincera (leia entrevista que fiz com a diretora). Dessa leva do cinema nacional que representa os últimos 12 meses do calendário, o filme de Sandra Kogut é o melhor, não tenho dúvidas. E acho que renderia alguma surpresa no Oscar, até mesmo por ser um filme pouco conhecido (ainda não foi lançado nos EUA) e que despertaria curiosidade.
Mas não sei… Num chute que pode ir parar fora do estádio, eu arrisco dizer que “Última Parada 174” foi escolhido para dar o troco na ausência de “Tropa de Elite” ano passado. São filmes “quentes”, sobre violência e questão social, ao passo que “Mutum” tem mais a ver com “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias”, por ser centrado em um universo infantil (embora, de jeito maneira, sejam filmes infantis). Divago, mas… Só quem participou da decisão é que sabe mesmo o que fez.
Editor-chefe e criador do Cinematório. Jornalista profissional, mestre em Cinema pela Escola de Belas Artes da UFMG e crítico filiado à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e à Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema). Também integra a equipe de Jornalismo da Rádio Inconfidência, onde apresenta semanalmente o programa Cinefonia. Votante internacional do Globo de Ouro.