O filme de Julian Schnabel, sobre um editor de revista que se vê condenado à prisão do próprio corpo após sofrer um derrame, tem na câmera subjetiva sua porta para retratar a vida daquele personagem, a partir do momento em que a visão passa a ser o sentido mais importante de todos.
Na ficção-científica de Andrew Stanton, os diálogos cedem lugar às expressões, e, não por acaso, as principais estão nos olhares de dois robôs, cujo grande feito, mais do que salvarem o planeta, é demonstrarem possuir um senso puro e real de humanidade correndo em seus circuitos.
Walter Salles e Daniela Thomas também buscam nos entreatos do drama de uma típica família brasileira de classe baixa os olhares de um microcosmo. São pessoas que vivem da luta diária pela sobrevivência e que muitas vezes parecem perder seus olhares no céu, na chuva, no chão, num espelho. Mas na verdade elas estão tentando se enxergar, e serem vistas também.
O que ecoa na nova produção internacional de Fernando Meirelles, radicalmente diferente na forma do filme de Walter e Daniela, mas espantosamente ressonante no propósito de discorrer sobre a maneira com que o indivíduo vê e deixa de ver o outro. Não só isso, mas é também um exercício, assim como “O Escafandro e a Borboleta”, que procura representar um tipo diferente de olhar utilizando as possibilidades que a linguagem oferece.
Seja qual for a forma, da mais natural à mais estilizada, esses quatro filmes se encontram num único clamor: eles parecem exigir dos olhos do público atenção exclusiva. São filmes que, mais do que falar com o espectador, buscam fazer dele um observador. Diante deles, nós somos convidados a apreciar a sétima arte em sua essência: a imagem, repleta de sentidos.
É tendo em vista este breve panorama que o cinematório inicia sua nova fase e afirma: quem diz que o Cinema morreu precisa tirar os óculos escuros.
Sejam bem-vindos de volta.