Por mais que alguns passos arriscados na pista de dança rendam momentos embaraçosos e de constrangimento alheio, eu gosto dessa parte da festa. Acho que é um momento muito válido para os nossos coroas, que, alegres pelo efeito dos coquetéis, taças de Chandon e uísque aguado, sentem-se no direito de serem jovens. Por isso gostei de ver Meryl Streep pulando na cama como se tivesse 17 anos, cantando e se esbaldando pelas ruas ao som de “Dancing Queen” nessa bobagem em cartaz nos cinemas chamada “Mamma Mia!”.
Aquele é o único momento em todo o filme em que a proposta de se fazer passar por ridículo e não dar a mínima para isso encontra uma sintonia com o que está acontecendo na tela – as apresentações do elenco principal logo após o fim da história confirmam esse tema. Na cena de “Dancing Queen” (canção indispensável no repertório de qualquer banda que toque em formaturas e festas de clube), Streep, suas amigas e todas as mulheres da ilha grega onde o filme se passa participam de um número musical grandioso. E é quando a diretora estreante Phyllida Lloyd consegue capturar o espírito do que o ABBA representa hoje: a nostalgia de se sentir jovem.
Porém, aqueles são os poucos minutos em que Lloyd realmente parece entender que está fazendo um filme. Ela, que construiu uma carreira como diretora de teatro e de ópera (e foi por seu trabalho em “Mamma Mia!” no palco que chegou a Hollywood), parece perdida, sem demonstrar nem mesmo ter um planejamento adequado para as coreografias dos atores e figurantes. Talvez para quem estivesse no set o espetáculo tenha parecido vistoso. Já quem está na sala de exibição acaba refém de planos fechados e da má utilização da câmera, que passeia pelos cenários num uso indiscriminado de grua e de travellings. E o que realmente irrita é que esses movimentos parecem nunca se completar, já que há um corte a cada dois segundos.
Se há problema na direção, o mesmo se repete no roteiro de Catherine Johnson, outra que vem do teatro e não tem experiência em cinema. Não há um cuidado com os personagens, como pode se observar pelas amigas da protagonista, que são abandonadas no meio da narrativa como se sequer tivessem sido apresentadas. Um outro personagem “descobre” que é gay (afinal, é um filme com músicas do ABBA!), mas não vemos como isso se deu até que ele nos diga. E acaba que a própria protagonista (a bela Amanda Seyfried) fica relegada a um segundo plano, enquanto a mãe, vivida por Streep, rouba a cena.
De resto, parece que o roteiro foi costurado desajeitadamente para encaixar o maior número possível de músicas do ABBA, com os atores se comportando como se estivessem em um karaokê – só faltou uma bolinha saltando sobre as legendas para a platéia cantar junto. Não se pode dizer que o elenco está bem, uma vez que os atores não fazem questão alguma de incorporarem algum personagem. Parecem apenas estarem lá para se divertir, dançar e cantar. Colin Firth é Colin Firth, Pierce Brosnan é Pierce Brosnan (e canta mal como Pierce Brosnan), Meryl Streep é Meryl Streep…
Se a boa notícia é que “Mamma Mia!” não é uma comédia musical adolescente, a má notícia é que os adultos do filme pensam que estão em uma comédia musical adolescente. É como imaginar o que será um “High School Musical Reunion” daqui a 40 anos. O brega e o ridículo podem ser engraçados, mas até para isso é necessário um pouco mais de competência.
direção: Phyllida Lloyd; com: Amanda Seyfried, Stellan Skarsgård, Pierce Brosnan, Colin Firth, Meryl Streep, Julie Walters, Christine Baranski; roteiro: Catherine Johnson (baseado no musical de sua própria autoria); produção: Judy Craymer, Gary Goetzman; fotografia: Haris Zambarloukos; montagem: Lesley Walker; música: Benny Andersson; estúdio: Playtone; distribuição: Universal Pictures. 108 min