Zhang (que também é chinês, natural de Xangai, como Kar Wai) opta claramente por um sincretismo na linguagem. Mas o que poderia ser visto (ou vendido) como um trabalho que desafia e provoca o espectador, não passa de um amontoado de cenas superestilizadas, que, se funcionam em trailers, na forma de um longa-metragem resultam numa inesperada combinação de videoarte pedante com novela mexicana melosa.
Logo de cara, Zhang denuncia suas intenções com um prólogo que funciona quase como um curta e dá a tônica do filme todo: é uma lamentação de um amor adolescente, só que estendida em uma hora e meia. Ao menos, aquele início é protagonizado por dois jovens (e é uma graça ver a garota cantar “La Vie em Rose” com a voz chorosa). O que não dá para engolir depois são dois adultos se comportando como se tivessem 15 anos.
É tudo muito juvenil e exagerado, ao ponto do sentimentalismo barato. Há cenas do casal brincando no parque, tomando sorvete, andando de mãos dadas… Tão bonitinho! E quando eles brigam, vêm os flashbacks da época em que eram tão felizes juntos… Ahhh! :( Têm aquelas cenas em que eles encostam a cabeça na parede e choram, choram, choram… Encostam a cabeça na vidraça enquanto chove e choram, choram, choram… E que tal o casal de peixinhos na pia? Soooo cute! Valha-me…
O que torna “Amantes” ainda mais frustrante é que Zhang parece querer que o público se enamore dos personagens, mas ao mesmo tempo ele não permite que você conheça aquelas pessoas. O máximo que se tem na tela são os efeitos do coração partido, como se mostrar alguém chorando fosse suficiente para criar algum envolvimento emocional por parte do espectador.
direção: Carl Zhang; com: Wu Yao Bing, Cherie Ditcham, Wu Xiao Dong, Danielle Jenster, Yao Shi Jie, Angela Qiu, James Vegter, Wei Yi; roteiro: Carl Zhang; produção: James Polidoras, Carl Zhang, Zhao Zhu; fotografia: Carl Zhang; montagem: Carl Zhang; estúdio: Bebop Films, The Style Embassy. 100 min