A tranqüilidade, que o próprio título já sugere, também está no roteiro e nas atuações. É um filme de poucas falas e muitos olhares. Não é existencialista ou filosófico – eufemismo para chato. Pelo contrário, é um filme que se “entende” já na primeira sentada.
O protagonista, Paul (Lennie Burmeister), é um jovem de 19 anos que decide desertar do exército e fugir para a casa de campo da família. Sem perspectiva sobre o que fará da vida, sua única certeza parece ser não chegar até o fim do serviço militar.
Embora “Bangalô” seja a história desse jovem, a namorada do irmão dele, Lene (Trine Dyrholm), também tem papel importante na abordagem de Köhler sobre esse sentimento de inadequação vivido pelo personagem principal. Ela, que de certa forma também se refugia naquela casa, aos poucos se identifica com Paul, mesmo sendo alguns anos mais velha. Assim como o rapaz, ela também tem dúvidas sobre o futuro profissional, já que sua carreira de atriz oferece mais incertezas do que promessas.
O exílio a que os personagens de “Bangalô” se propõem evoca aquela impressão que você tem quando está em um lugar, mas sabe que deveria estar em outro. É uma sensação de não estar fazendo a coisa certa, apesar de também haver o alívio de não estar fazendo o que não se quer. Um dilema pungente, muitas vezes velado e sem solução aparente. Köhler sabe muito bem disso.
direção: Ulrich Köhler; com: Lennie Burmeister, Devid Striesow, Trine Dyrholm, Nicole Gläser, Jörg Malchow; roteiro: Ulrich Köhler, Henrike Goetz; produção: Tobias Büchner, Peter Stockhaus; fotografia: Ute Freund, Patrick Orth; montagem: Gergana Voigt; estúdio: Peter Stockhaus Filmproduktion, ZDF. 84 min