Quinto longa-metragem da cineasta e atriz alemã Angela Schanelec, o filme integra a chamada Nova Escola de Berlim e compartilha com “Bangalô” a estética de uma filmagem calma e lúcida. Schanelec utiliza planos fixos na maior parte do tempo, o que condiz com a temática que ela trabalha – também congruente com esse “movimento” do cinema alemão que procura evidenciar a frustração e a incerteza em relação ao presente vivido, e não ao futuro, já que este parece inexistir na ausência das perspectivas.
Cada cena de “Entardecer” é um recorde mundano do cotidiano. O próprio título, aliás (que também é traduzido como “À Tarde”), é uma referência, de certa forma irônica, ao período do dia em que tudo acontece – quando, para aquelas pessoas na tela, o marasmo parece algo fatal.
Quase incomunicáveis, apesar de manterem diálogos quando se sentam à mesa, os membros daquela família estão exilados. E sós. A mãe, Irene, uma atriz de teatro (interpretada por Schanelec), parece fechada na própria amargura. Já seu irmão mais velho (Fritz Schediwy), com quem divide a casa, atingiu um nível de conformismo e chega a afirmar que “perdeu o interesse pelas pessoas”. Enquanto isso, o filho de Irene, Konstantin (Jirka Zett), carrega a revolta e procura uma fuga. Até mesmo a menina da vizinhança compartilha desse sentimento de solidão, já que prefere passar a maior parte do tempo na casa ao lado, enquanto a mãe trabalha.
Mas o que essas pessoas procuram? Ou do que será que elas fogem? Talvez seja o nada que as aflija, no cúmulo da inanição. Alguém diz, em algum momento: “Fazer algo e ser amado por isso. Toda criança é assim”. Ser reconhecido.
“Entardecer” se assemelha a um recente filme americano que também trata de uma família fracionada: “Junebug”. E, se formos mais atrás, também encontraremos semelhança com o clássico do cinema independente “A Última Sessão de Cinema”. São filmes sobre pessoas que se perderam em algum momento e ainda tentam descobrir onde erraram e como chegarão a um reparo. O que parece faltar a elas é um objetivo. Mas uma vida pautada por metas seria mesmo ideal?
O sorriso de Irene ao ver seu irmão nadando no lago e se estirando para tomar sol talvez seja uma resposta enquanto a espera perdura. Afinal, se há algo que Angela Schanelec nos prova, é que existe beleza no tédio.
direção: Angela Schanelec; com: Jirka Zett, Miriam Horwitz, Angela Schanelec, Fritz Schediwy, Mark Waschke, Agnes Schanelec, Katharina Linder, Tobias Lenel, Karina Krawczyk; roteiro: Angela Schanelec (livremente adaptado da peça “A Gaivota”, de Anton Chekhov); produção: Angela Schanelec; fotografia: Reinhold Vorschneider; montagem: Bettina Böhler; estúdio: Nachmittag Film, ZDF. 97 min