A ambientação da trama na Guerra do Iraque é atual e tudo mais, mas parece que o tema foi abordado só para “estar na moda”, uma vez que não se acrescenta nada que já não vimos: tortura, intrigas políticas, espionagem hi-tech via satélite etc., etc., etc.
Como em todo filme de Ridley Scott, as imagens recebem um tratamento de primeira: são cenas bem iluminadas, quentes, plásticas até. É um filme bonito. Até mesmo uma cena que se passa num depósito de lixo é feita com a melhor fotografia possível. O problema é que o cineasta usa toda essa beleza fotográfica a serviço de decisões pouco sensatas, como na criação de cenas típicas de thrillers de ação. Tome como exemplo a seqüência em que o personagem de Leonardo DiCaprio é resgatado por helicópteros americanos – mais parece um filme do Rambo ou, para ficar na carreira de Scott, o terrível e ufanista “Falcão Negro em Perigo”.
O preciosismo do diretor com a imagem também é percebido na execução de cenas em que ocorrem ataques terroristas, que parecem muito realistas e detalhadas (note como a marquise de um prédio faz uma “onda” devido ao impacto de uma explosão). E por querer mostrar tudo e mostrar muito, Scott também volta a “Falcão Negro em Perigo” ao realizar uma cena bastante gráfica, quando a simples sugestão do que está acontecendo já bastaria.
É tudo muito bem feito em “Rede de Mentiras”, mas o filme não escapa de ser desnecessário. Scott mostra mais uma vez que é um cineasta de extrema competência técnica, mas emocionalmente gélido na construção de seus personagens – o que fica ainda mais evidente na tentativa desesperada do roteirista William Monahan em criar um lado mais humano para o personagem de DiCaprio através de um relacionamento amoroso. Acaba que é o chefe da CIA vivido por Russell Crowe que parece mais a vontade no filme, graças à sua personalidade fria e pouco sensível.
direção: Ridley Scott; com: Leonardo DiCaprio, Russell Crowe, Mark Strong, Golshifteh Farahani, Oscar Isaac, Ali Suliman, Alon Abutbul, Vince Colosimo; roteiro: William Monahan (baseado no livro de David Ignatius); produção: Donald De Line, Ridley Scott; fotografia: Alexander Witt; montagem: Pietro Scalia; música: Marc Streitenfeld; estúdio: De Line Pictures, Scott Free Productions; distribuição: Warner Bros. 128 min
Editor-chefe e criador do Cinematório. Jornalista profissional, mestre em Cinema pela Escola de Belas Artes da UFMG e crítico filiado à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e à Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema). Também integra a equipe de Jornalismo da Rádio Inconfidência, onde apresenta semanalmente o programa Cinefonia. Votante internacional do Globo de Ouro.