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Romance

Longe da direção desde 2003, Guel Arraes retorna às telas com um misto de comédia satírica e romântica. A combinação é irregular, mas rende bons momentos. Só não se engane com a falsa impressão que tem sido passada de que o filme faz críticas à televisão brasileira, como se Arraes tivesse sido acometido de um ato de ousadia.

Não. Em “Romance” temos um humor que funciona bem ao satirizar a produção audiovisual do país, com direito a alfinetadas nada sutis na Rede Globo e em algumas tendências do cinema nacional atual, como a utilização de não-atores nos filmes. Porém, é preciso deixar claro, essa paródia é praticamente um mea-culpa. Afinal, a própria Globo está por trás do longa e Arraes e sua equipe sempre trabalharam na casa. Acaba que a sensação é semelhante à de ver o Casseta & Planeta fazendo piada com a novela das 8 – ou, para ser mais justo com o passado de Arraes, lembra os esquetes da saudosa “TV Pirata”.

A habitual parceria com Jorge Furtado no roteiro é responsável pelas tiradas mais espirituosas, especialmente quando a dupla faz o jogo metalingüístico com o qual já está tão habituada. Destaca-se, logo no início, a forma como o filme muda subitamente de gênero e de tom, do romance para a comédia, em um corte, na primeira aparição de Andréa Beltrão. Mais tarde, o próprio Arraes seu auto-ironiza ao levar a ação para o Nordeste, cenário que lhe garantiu fama com “O Auto da Compadecida” e “Lisbela e o Prisioneiro” – filmes que, por outro lado, só ajudaram a estigmatizar o linguajar nordestino na tela, e também a própria linguagem de Arraes (que sempre fez TV no cinema e cinema na TV sem grandes diferenciações estéticas – e esta não é uma observação pejorativa).

Por sempre repetirem um estilo característico de escrita – com diálogos rápidos e constantes jogos de palavra, além do uso do hipertexto para quebrar a linearidade narrativa – Arraes e Furtado demonstram uma certa fadiga criativa. Não é de se espantar, portanto, que, na tentativa de fazer algo diferente, os dois passem a se dedicar ao romance (ora!) da trama em certo momento. É aí que o resultado não sai de todo convincente.

Wagner Moura, que interpreta um ator e diretor de teatro que monta uma adaptação do clássico texto “Tristão e Isolda”, se sai bem alternando performance cômica e dramática, assim como Letícia Sabatella, que vive a atriz com quem ele inevitavelmente se envolve. Nos bastidores da peça encenada e da novela que dela surge, estão Andréa Beltrão, José Wilker, Bruno Garcia e Vladimir Brichta, cada um incorporando muito bem seus dotes humorísticos. O grande destaque fica para a participação de Marco Nanini, que rouba a cena e levanta o filme no momento em que ele se arrasta.

nota: 6/10 — vale o ingresso

Romance (2008, Brasil)
direção: Guel Arraes; com: Wagner Moura, Letícia Sabatella, Andréa Beltrão, Vladimir Brichta, José Wilker, Marco Nanini, Bruno Garcia; roteiro: Guel Arraes e Jorge Furtado; produção: Paula Lavigne; fotografia: Adriano Goldman; montagem: Gustavo Giani; música: Fábio Mondego, Fael Mondego, Marco Tommaso (Bandeira 8); estúdio: Globo Filmes, Natasha Filmes, Miravista; distribuição: Buena Vista International. 105 min
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