Quando o Renato me disse para tentar escrever sobre o filme “Marley & Eu”, ele me deu uma dica: “Você tem uma relação pessoal com o filme, assim como com o livro”. E é por isso que resolvi aceitar a tarefa, já que o que ele me pediu não foi a redação de uma crítica de cinema (para isso muitos conhecimentos específicos são necessários), mas o relato de uma experiência pessoal com a sétima arte.
Antes mesmo de “Marley & Eu” começar a ser produzido, eu já havia comprado o livro homônimo e lido duas vezes. Apaixonei-me por ele, não simplesmente porque adoro cães e sempre tive um do meu lado, mas principalmente porque aprecio as histórias da vida real, sinceras e bem contadas. John Grogan, autor e narrador, acertou em cheio quando optou por não fazer de Marley um protagonista isolado. Marley é parte de uma família, portanto, é a história dessa família e como Marley acompanhou a formação e a convivência da mesma que cativa as pessoas, inclusive eu. Pela beleza e consistência do que eu li, tive absoluta certeza de que aquele livro era um forte candidato à versão cinematográfica. E ainda bem que isso não demorou muito para acontecer.
Fiquei muito feliz quando, vendo o filme, percebi que essa característica do livro havia sido preservada pelos cineastas. Decisão muito acertada, pois dá ao filme um tom universal. Há muitas possibilidades de identificação para quem assiste. Seja porque você tem/teve um cão tão maluco quanto o Marley, seja porque está procurando um emprego e tentando acertar na vida, seja porque você está se casando ou quer se casar, seja porque você será pai ou mãe em breve ou já enfrenta tal deliciosa responsabilidade há mais tempo, etc. Todas essas situações são abordadas de forma suave e verossímil. E mesmo que você não se identifique com nada daquilo, ainda assim “Marley e Eu” pode ser considerado apenas como uma boa diversão para qualquer idade. O que já é muito válido.
No meu caso, as identificações são muitas. E o que torna a minha relação com o filme mais estreita é o fato de que há mais ou menos dois anos ganhei uma cadela já adulta e cheia de hábitos não muito “certinhos”. De vez em quando passo por alguns maus bocados com ela e por ela, embora Lili não chegue a ser uma “troublemaker” tão competente quanto o Marley. Falando nisso, as confusões que o Marley apronta rendem muitas risadas para o público. Algumas delas confusões grandiosas! Fico imaginando o quanto sua família teve energia para acompanhá-lo. Um simples passeio já exigia o maior fôlego e atenção.
Cenas divertidas à parte, para mim um dos aspectos mais interessantes do filme é a forma como foi retratado o sentimento de amizade, de companheirismo que se desenvolve com um cão. Principalmente com cães que precisam ser “defendidos” (quase que o tempo todo) por não terem a mesma aceitação social dos animais mais adestrados. Um sentimento puro, natural. É bonito ver como Marley é fiel e amável com seus donos. Melhor dizendo, com seus amigos John, Jen e filhos. É gostoso acompanhar como essas pessoas têm afeto umas pelas outras e pelo Marley, se defendem, fazem de tudo para superar seus problemas, sempre juntos, inclusive problemas de casal.
Sempre que eu recomendo “Marley & Eu” para alguém, recomendo livro e filme. Assim: um, depois o outro. Aí me perguntam qual dos dois eu prefiro. A minha resposta é simples: se complementam. Se por um lado, o livro é mais detalhado, faz sua imaginação viajar, o que vai tornando a história mais rica, por outro o filme transporta você com mais facilidade para a história. Alguns dos detalhes verídicos mais bacanas foram deixados de lado ou adaptados, mas isso é esperado e perfeitamente compreensível, uma vez que não há como filmar tudo que é descrito nas várias páginas do livro. No entanto, por ser uma boa adaptação, o envolvimento foi perfeito. Você vivencia por algumas horas o que antes com o livro você só pôde imaginar. Uma bela ajuda da tela gigante, das locações lindas na Flórida, do bom trabalho dos atores humanos (em especial da Jennifer Aniston, bem mais natural e convincente do que seu colega) e dos atores caninos, que pareciam a própria reencarnação do Marley.
Esses, entre outros vários detalhes técnicos, tornam o filme uma verdadeira experiência e não somente um passatempo. Pelo menos para mim aconteceu assim. E me sinto em grande vantagem por isso, pois é mais um filme que me tocou e será guardado com carinho em minha memória, tendo também um lugar cativo em minha estante assim que o DVD for lançado. ■