Belmonte comanda um filme norteado pelos reflexos da “loucura” urbana. Chamo de loucura, em primeiro lugar, porque estamos sempre tão imersos em nossas vidas e problemas, sempre com tanta pressa que não questionamos – ou não confrontamos – o espaço em que vivemos. Loucura também (e é por esse aspecto que optei pelo uso das aspas) que está aparentemente tirando a razão das personagens centrais do filme. Aquelas pessoas que, ao contrário dos demais, tentam ao menos entender e decifrar parte do mundo em que vivem. Tais questionamentos chegam a parecer devaneios de mentes perturbadas, tanto para as personagens “sãs”, como para o espectador.
O mais interessante é que Belmonte faz isso de uma forma tão real que é difícil não concordar, ou ao menos entender, as atitudes de seus protagonistas. O uso de locações que nos mostram um lado menos “cartão postal” de Brasília, a participação de pessoas comuns e as improvisações são fundamentais para que o filme seja tão naturalmente crível.
Não se identificar com alguém ou com alguma situação do filme é uma tarefa quase impossível. Mas, se você se identificar mais com o estrangeiro que vem gravar um filme no Brasil, para quem tudo é novidade, talvez seja o momento de se questionar. Para quem não gosta de viver numa bolha, “Subterrâneos” é o filme perfeito.
direção: José Eduardo Belmonte; com: Murilo Grossi, Chico Sant`Anna, Nicola Siri, Cibele Amaral, João Paulo Oliveira, Andrade Jr., Roque Fritsch, Wilian Lopes, Lucenaide Pinheiro, Gabriele Lopes, Soraia Furacão, André Deca, Ricardo Machado; roteiro: José Eduardo Belmonte; produção: Roque Fritsh; fotografia: André Lavenéré, André Luís Da Cunha; montagem: Rodrigo Benevelo; música: Zé Pedro Gollo. 86 min
*NOTA DO EDITOR: “Subterrâneos” foi lançado em 2003 no Festival de Brasília e, desde então, é exibido apenas no circuito de festivais, permanecendo inédito no circuito comercial.