“Los Abrazos Rotos”, Pedro Almodóvar
Até agora, a fantasia sombria e psicodélica de “Coraline” é o único lançamento puro deste ano a chamar a atenção. “O Lutador”, um filme de macho que faz chorar, “Bolt”, a animação mais Pixar da Disney, e “Beijo na Boca, Não!”, o delicioso musical retrô de Alain Resnais, entre outras estréias de janeiro e fevereiro, são todos filmes de 2008 para trás. Então, se março é mesmo o início, já começa com “Watchmen”, o primeiro blockbuster do ano, que vem despertando a curiosidade e a expectativa (e também o temor) de quem conhece os quadrinhos indeléveis de Alan Moore e Dave Gibbons.
Mas não é só de blockbusters e lançamentos óbvios que vamos falar. Nesta série, dividida em três partes, o cinematório lista novos filmes de cineastas conceituados que estreiam até o fim do ano. Alguns não devem demorar muito a serem exibidos, já que Cannes está a apenas dois meses de distância. Então, vamos começar com os chamados “big shots“: diretores já consagrados que finalizaram ou estão dando os últimos retoques em seus últimos trabalhos. Quem não quer ver qualquer um desses?
MARTIN SCORSESE
“Shutter Island” (Paramount, outubro). O mestre volta ao gênero policial após ter recebido o tão esperado Oscar com “Os Infiltrados”. Agora, Scorsese faz filme de época, situado nos anos 50, mais uma vez com Leonardo DiCaprio no papel principal: um agente federal que investiga a fuga de uma assassina de um hospital para criminosos. O elenco ainda tem Mark Ruffalo, Ben Kingsley, Max von Sydow, Jackie Earle Haley, Emily Mortimer, Patricia Clarkson e Michelle Williams. A fotografia é do antigo colaborador de Scorsese Robert Richardson (“O Aviador”, “Cassino”) e a montagem é de sua alma-gêmea, Thelma Schoonmaker. Outra parceria repetida é com o designer de produção Dante Ferretti, portanto, há de tudo aqui para mais um bom e velho Scorsese nas telas.
MICHAEL MANN
“Public Enemies” (Universal, julho). É provável que o novo filme de Mann se torne o “adversário” de Scorsese, já que também é um policial de época, porém nos anos 30, e tem elenco de primeira: Johnny Depp, Christian Bale, Billy Crudup, Marion Cotillard, Lily Taylor, David Wenham, Leelee Sobieski, Giovanni Ribisi. A pegada de Mann parece ser diferente, mais um retrato de uma ação criminosa marcante do que um thriller por excelência centrado num só caso, como “Shutter Island” parece ser. Fotografia de Dante Spinotti (“Los Angeles: Cidade Proibida”), com quem Mann trabalhou em “O Informante”, e design de produção de Nathan Crowley, o homem por trás dos dois últimos “Batman”, além de “O Grande Truque” – também de Christopher Nolan.
QUENTIN TARANTINO
“Bastardos Inglórios” (Universal, outubro). Sobre esse já temos falado exaustivamente. Cannes vai dizer se o hype deve sobreviver até a estréia em circuito.
JAMES CAMERON
“Avatar” (Fox, dezembro). É o primeiro filme de ficção de Cameron em 12 anos, desde “Titanic”. Mais que isso, marca seu retorno ao campo da ficção-científica, no qual criou “O Exterminador do Futuro” e fez “Aliens – O Resgate”. Acrescente que este é o primeiro longa live-action feito para ser visto com a nova tecnologia 3-D desenvolvida por Cameron (que, diferente da antiga, oferece reais possibilidades narrativas), e você tem três grandes motivos que explicam porque este é um dos mais aguardados lançamentos do ano. E o bacana é que ele nem precisa de grandes nomes no elenco para isso. De qualquer forma, Sigourney Weaver e Michelle Rodriguez estão lá. Rick Carter (colaborador frequente de Steven Spielberg e Robert Zemeckis) é o designer de produção. A trilha sonora fica com James Horner (“Titanic”).
PETER JACKSON
“The Lovely Bones” (DreamWorks, sem data). Depois de anos envolvido na fantasia e na aventura de “O Senhor dos Anéis” e “King Kong”, Jackson retorna ao drama, gênero que trabalhou tão bem em “Almas Gêmeas”. O filme está há praticamente um ano em pós-produção e nenhum material de divulgação foi divulgado até agora. Não deve demorar muito para esse quadro mudar. A jovem talentosa Saoirse Ronan vive a protagonista, uma garota assassinada que acompanha do Céu o desenrolar da investigação do crime e o sofrimento de sua família. Um possível problema é o montador Jabez Olssen, que trabalhou em “O Senhor dos Anéis: As Duas Torres”, justamente o filme que mais apresenta transtornos de ritmo na trilogia.
TERRENCE MALICK
“The Tree of Life” (sem distribuidor, sem data). Um dos cineastas americanos fundamentais dos últimos 40 anos, já considerado como o “novo Kubrick”, Malick não podia estar mais intrigante quanto neste filme. Descrito simploriamente como a história da perda da inocência de um garoto na América dos anos 50, chegando até os dias atuais. Recentes informações de que existem dinossauros em CGI no filme deixam a coisa toda misteriosa. O que será que Malick tem nas mangas? Sean Penn vive o personagem principal na fase adulta. Brad Pitt é seu pai na infância. A fotografia é mais uma vez de Emmanuel Lubezki, com quem Malick trabalhou em “O Novo Mundo” (e que também tem no currículo “Filhos da Esperança” e “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça”). O brasileiro Daniel Rezende (“Cidade de Deus”, “Diários de Motocicleta”, “Tropa de Elite”) está na equipe de montadores (são cinco, segundo o IMDb). E o design de produção é novamente de Jack Fisk, que além de “O Novo Mundo” fez “Além da Linha Vermelha” com Malick (fora que também trabalhou em “Sangue Negro” e “Cidade dos Sonhos”). A trilha é de Alexandre Desplat.
MICHAEL HANEKE
“Das Weiße Band” (sem distribuidor, sem data). Após “Caché”, o cineasta contraventor do velho continente retorna com um drama de guerra situado em uma zona rural da Alemanha em 1913 e rodado em preto-e-branco. O filme (cujo título traduzido literalmente é “A Faixa Branca”) gira em torno de estranhos acontecimentos em uma escola, onde parece ocorrer um ritual de punição. Ver o que Haneke tem a dizer sobre o fascismo, como sugere a sinopse, é só a ponta do iceberg aparentemente. A equipe de Haneke é a mesma de sempre: fotografia de Christian Berger, montagem de Monika Willi e design de produção de Christoph Kanter. Mal podemos esperar.
“Whatever Works”, Woody Allen
JIM JARMUSCH
“The Limits of Control” (sem distribuidor, sem data). Respeitada e cultuada voz do cinema independente americano, Jarmusch é outro desses cineastas sazonais. Seu último filme é de 2005, o magnífico “Flores Partidas”. Aqui ele volta a trabalhar com Bill Murray, mas parece que o protagonista é Isaach De Bankolé. Mais uma vez, o filme está envolto em mistério, mas sabe-se que é sobre um homem solitário que está em vias de completar um crime. Elenco ainda tem John Hurt, Tilda Swinton e Gael García Bernal. Fotografia do consagrado Christopher Doyle, pela primeira vez trabalhando com Jarmusch.
LARS VON TRIER
“Anticristo” (Califórnia Filmes, sem data). Depois do grande barulho que provocou com “Dogville”, numa sequência que vinha durando desde “Os Idiotas”, a verdade é que von Trier não chamou muito a atenção com “Manderlay” ou “O Grande Chefe”, apesar de ambos serem ótimos filmes. Agora, o dinamarquês iconoclasta se arrisca no gênero terror, no que parece ser uma reinvenção ou subversão do clássico enredo “pessoas em apuros numa floresta”. Só vamos esperar que ele faça com o horror o que fez com o musical em “Dançando no Escuro”. A fotografia é novamente de Anthony Dod Mantle, com quem von Trier vem trabalhando há anos e que venceu o Oscar este ano por “Quem Quer Ser um Milionário”.
WOODY ALLEN
“Whatever Works” (Califórnia Filmes, novembro). Não seria um ano normal sem um filme de Allen. Este marca seu retorno à Nova York após a turnê européia. Ainda não foi divulgado muito sobre a trama, mas é uma comédia. Larry David (da série “Curb Your Enthusiasm” e co-criador de “Seinfeld”) é o protagonista e, aparentemente, vive um caso com Evan Rachel Wood. É o mundo de Woody Allen, então não se espante. Na equipe do cineasta, a única novidade é o diretor de fotografia Harris Savides (“Milk”, “O Gângster”, “Zodíaco”, “Elefante”), que trabalha pela primeira vez com Allen.
PEDRO ALMODÓVAR
“Los Abrazos Rotos” (sem distribuidor, sem data). O espanhol dirige a musa Penélope Cruz mais uma vez. Ao que parece, é um drama romântico mais pesado, que talvez ecoe o tom empregado em “Má Educação”. São duas tramas paralelas, uma atual e outra nos anos 90. A fotografia é de Rodrigo Prieto, mais conhecido por sua parceria com Alejandro González Iñárritu em “Amores Brutos”, “21 Gramas” e “Babel”. A música é mais uma vez de Alberto Iglesias, compositor favorito de Almodóvar. Filme estréia já este mês na Espanha, portanto devemos ouvir falar muito sobre ele em breve.
ALAIN RESNAIS
“Les Herbes Folles” (Imovision, sem data). Depois do sucesso de “Medos Privados em Lugares Públicos” junto a público e crítica, o veterano cineasta francês apresenta um filme novinho em folha este ano. Adaptado do livro “O Incidente”, de Christian Gailly, gira em torno do relacionamento entre dois homens depois que um deles encontra a carteira roubada do outro. André Dussollier e Mathieu Amalric encabeçam o elenco.
WERNER HERZOG
“Bad Lieutenant: Port of Call New Orleans” (Imagem Filmes, agosto). É um filme policial, disto se sabe. Inicialmente, acreditou-se que era um remake de “Vício Frenético”, o que provocou ira em seu diretor, Abel Ferrara. Herzog depois abaixou a poeira ao dizer que não era uma refilmagem, apenas utilizava o título original (“Bad Lieutenant”). Desde então, Herzog vem reafirmando isso em toda entrevista que dá. Ele diz que nunca viu o longa de Ferrara e que seu novo trabalho é um “novo tipo de filme noir”. Nicolas Cage, Val Kilmer e Eva Mendes são os nomes que vão aparecer no cartaz.
“Public Enemies”, Michael Mann
ANG LEE
“Taking Woodstock” (sem distribuidor, sem data). Enquanto “Desejo e Perigo” permanece na geladeira da Europa Filmes, Lee finaliza este longa que nos levará de volta ao lendário Festival de Woodstock de 1969. Na verdade, o filme parece se concentrar nos bastidores do concerto, algo como um “Quase Famosos” mais reflexivo. Há novamente o tema da homossexualidade, mas diferente de “O Segredo de Brokeback Mountain” promete ser um filme mais leve. Mais uma parceria de Lee com o roteirista e produtor James Schamus, que vem rendendo desde o início da carreira do diretor. Já a fotografia é de um novato na filmografia de Lee: Eric Gautier (“Na Natureza Selvagem”, “Medos Privados em Lugares Públicos”, “Diários de Motocicleta”). Alguns nomes interessantes no elenco: Emile Hirsch, Paul Dano, Jeffrey Dean Morgan, Liev Schreiber, Imelda Staunton e, acreditem ou não, Eugene Levy (afinal, se Anna Faris teve um papel em “Brokeback Mountain”…).
JOHNNIE TO
“Vengeance” (sem distribuidor, sem data). Por falar em cineasta asiático, o prolífico Johnnie To oferece este ano mais uma entrada em seu cardápio de thrillers policiais de ação. Simon Yam, que esteve em “Eleição” e “Eleição 2”, volta a trabalhar com o diretor. E pensar que desde “Exilados”, último do To a aportar no Brasil, ele já finalizou outros quatro filmes – todos eles, junto com “Vengeance”, fotografados por Cheng Siu-keung. Distribuidores: tomem vergonha na cara!
FRANCIS FORD COPPOLA
“Tetro” (sem distribuidor, sem data). Outro que já tem filme pronto que não estreiou no Brasil, Coppola voltou com tudo e já completou este segundo longa de sua “retomada”. Rodado na Argentina e com toques autobiográficos, o filme tem Vincent Gallo no papel principal: um homem que precisa lidar com as rivalidades internas de sua família, formada por artistas imigrantes da Itália. Maribel Verdú e Carmen Maura e Rodrigo De la Serna integram o elenco. O compositor Osvaldo Golijov e o diretor de fotografia Mihai Malaimare Jr., que trabalharam em “Youth Without Youth”, retornam – assim como o montador Walter Murch, que merece ser chamado de mestre tanto quanto Coppola, com quem trabalha desde os tempos de “Apocalypse Now”.
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Na próxima parte da série Expectativa 2009, os filmes que prometem tornar 2009 memorável para o nosso querido e sofrido cinema brasileiro.