Talvez não tenham dado mais espaço para a ação por se tratar de uma história de origem – e cheia de clichês, é verdade. Vejamos: somos apresentados ao jovem Goku (Justin Chatwin), que na iminência de completar 18 anos (por que não 14, 17, 23, só para variar um pouco?) se vê diante da missão de proteger a Terra do vingativo Piccolo (James Marsters). O vilão aguardava o momento certo para retornar (deve ter conhecido Voldermort e Sauron no além-túmulo) e coletar as sete Esferas do Dragão. Assim, ele pode dominar o planeta com sua força infinita durante um eclipse total da Lua (e como não podia deixar de ser somos avisados logo nas primeiras cenas de que esse fenômeno está para acontecer). No caminho, Goku encontra aliados como o mestre Roshi (Chow Yun-Fat, o único no elenco que entra no espírito e parece atuar como se fosse um desenho animado), a valente Bulma (Emmy Rossum, muito vestida) e a garota mais bonita da sala, Chi Chi (vivida pela atriz mais bonita do elenco, Jamie Chung).
Mais uma vez, eu não faço idéia se no “Dragonball” original a história é a mesma. Mas para o filme é essa a premissa. O que se vê na tela é uma tendência muito clara de ocidentalizar a trama, inclusive nas referências que se faz a heróis como Homem-Aranha (Goku tem um “senso de aranha” idêntico ao de Peter Parker) e Superman (como Kal-El, o garoto chegou a Terra dentro de um asteróide ou coisa parecida). Até mesmo os famosos bullies da escola estão lá para implicar com o rapaz que, claro, é o loser da turma.
Outro problema nesse sentido está na própria direção. Do que adianta ter um diretor oriental, James Wong (“Premonição”, “O Confronto”), se ele dirige seguindo o estilo hollywoodiano? A la Zack Snyder em “Watchmen” e “300”, ele repete aquelas cenas de ação com slow-motion gratuito toda vez que os personagens entram na pancadaria. Além disso, o visual escolhido para o filme mais remete a outras tentativas fracassadas de atender ao fetichismo das versões “carne e osso”, como “Mestres do Universo” com Dolph Lundgren, ou “Street Fighter” com Jean-Claude Van Damme. Wong devia ter seguido o exemplo dos irmãos Wachowski em “Speed Racer” para poder brincar mais com as influências do animê (por exemplo, manipulando os cenários e optando por ângulos de câmera inusitados, sem falar na escolha dos próprios figurinos e cores do filme – que, aliás, são muito escuras). Talvez o resultado teria sido bem melhor se Stephen Chow, que exerce a função de produtor, tivesse também assumido a direção. Afinal, o que ele fez em “Kung-Fusão” é exatamente o que cairia bem aqui.
O subtítulo “Evolução” desse “Dragonball” deve ter sido escolhido para desvincular a produção do animê/mangá, como se ela fosse uma variação do original, além de dar a entender que o desenho evoluiu para live-action (e desde quando um é inferior ao outro?). De qualquer forma, trata-se de um filme inofensivo, com algumas cenas bem feitas dentro do possível (gosto particularmente do momento em que Goku tem que acender velas usando seu poder para poder impressionar sua paquera) e outras coisas totalmente desnecessárias (tem lobisomem no original também?). Não é a bomba atômica que vinha sendo anunciada.
direção: James Wong; roteiro: Ben Ramsey (baseado no mangá criado por Akira Toriyama); fotografia: Robert McLachlan; montagem: Matt Friedman, Chris G. Willingham; música: Brian Tyler; produção: Stephen Chow; com: Justin Chatwin, Chow Yun-Fat, Emmy Rossum, Jamie Chung, James Marsters, Joon Park, Eriko Tamura, Kim Randall Duk; estúdio: 20th Century Fox, Dune Entertainment, Star Overseas; distribuição: 20th Century Fox. 84 min