OK, estou usando exemplos extremos. Mas o ponto é que “Eu Te Amo, Cara” segue exatamente a mesma fórmula, com a diferença de que a aplica no sexo oposto. Se nós não entendemos por que a maioria das mulheres adora esse gênero enlatado e suas trivialidades, provavelmente elas também não entendem a importância que damos a um happy-hour regado a chopp gelado, uma partida de futebol (e a gozação nos amigos que torcem para o time adversário no dia seguinte) ou mesmo ir a um show de rock e tocar air guitar. Trivialidades, sim, mas que definem idiossincrasias do amplo perfil masculino.
Corro aqui o risco de estar fazendo generalizações e de me incluir no modelo de homem urbano que o filme dirigido de John Hamburg usa para fazer piadas. Mas a questão é que se há uma identificação com o personagem de Paul Rudd, ela surge em função da proximidade que ele tem não necessariamente com você, mas com pessoas que estão ao seu redor. “Eu Te Amo, Cara” utiliza uma abordagem bem sincera, mais voltada para um humor do cotidiano do que uma comicidade exagerada. Tendência que encontra sua ascenção nos filmes produzidos por Judd Apatow – que desta vez, não se enganem, nenhum envolvimento teve com o longa discutido.
O Peter Klaven vivido por Rudd (ator da trupe de Apatow, que aqui mostra que consegue protagonizar um filme com autoridade) está mais para o personagem de Seth Rogen em “Ligeiramente Grávidos” do que o de Steve Carell em “O Virgem de 40 Anos”. Ao invés de apenas rir das situações que rondam seu problema, você ri e acredita nesse problema. Sydney Fife, o novo melhor amigo de Peter interpretado por Jason Segel (outra figura carimbada nas produções que levam o selo Apatow), também tem essa pegada mais pé no chão, ainda que seja um sujeito excêntrico – e por isso mesmo adorável.
Hamburg, cineasta nada expressivo cujo único trabalho mais conhecido até então era a irregular comédia “Quero Ficar com Polly?”, consegue sair do esquema de seus roteiros anteriores (“Zoolander”, “Entrando Numa Fria”) e ao lado de Larry Levin (que também tem suas manchas no currículo, como “Dr. Dolittle 2”) constrói um “dude flick” acima da média. Entretando, o filme dá suas escorregadas no percurso, especialmente no ato final, quando a dupla de roteiristas vê uma necessidade em concluir as subtramas de todos os personagens secundários. Isso não só dilui a trama principal, como faz com que ela seja resolvida às pressas. É onde se sente a falta do toque de Midas de Apatow.
direção: John Hamburg; roteiro: John Hamburg, Larry Levin; fotografia: Lawrence Sher; montagem: William Kerr; música: Theodore Shapiro; produção: Donald De Line, John Hamburg; com: Paul Rudd, Jason Segel, Rashida Jones, Sarah Burns, Jaime Pressly, Jon Favreau, Jane Curtin, J.K. Simmons, Andy Samberg, Rob Huebel, Thomas Lennon, Lou Ferrigno; estúdio: Bernard Gayle Productions, De Line Pictures, DreamWorks SKG, The Montecito Picture Company; distribuição: Paramount Pictures. 105 min
Editor-chefe e criador do Cinematório. Jornalista profissional, mestre em Cinema pela Escola de Belas Artes da UFMG e crítico filiado à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e à Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema). Também integra a equipe de Jornalismo da Rádio Inconfidência, onde apresenta semanalmente o programa Cinefonia. Votante internacional do Globo de Ouro.