E só um adendo: posteriormente assisti também a “Sukiyaki Western Django”, do Takashi Miike, que segue o mesmo gênero de “faroeste oriental”. Apesar de ter coisas boas e ser de forma geral melhor enquadrado, gosto mais do filme do Kim Ji-woon. O Miike continua inédito no Brasil.
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O novo trabalho do diretor do ótimo “O Gosto da Vingança” é, principalmente, uma comédia de ação. Faz sátira e ao mesmo tempo homenagem ao western. Funciona melhor quando é sátira, já que na homenagem se limita a quase parodiar cenas do clássico “Três Homens em Conflito”, cujo título original (“O Bom, o Mau e o Feio”) já serve como piada.
Também por isso, em alguns momentos Ji-woon se excede e tenta ser Tarantino demais (chega até a usar a música “Don’t Let Me Be Misunderstood”, do Santa Esmeralda, já escutada em “Kill Bill: Volume 1”). De qualquer forma, as cenas de ação são na maioria satisfatórias, com boa e hábil movimentação da câmera em meio às coreografias no set (algo já observado no magnífico tiroteio final de “O Gosto da Vingança”).
Incomodam um pouco as cores saturadas – utilizadas propositalmente para realçar o aspecto histriônico do filme – embora isso não comprometa o senso de composição dos planos.
Dos personagens, só o “Mau” (Lee Byung-hun) é que não convence, pois parece mais uma caricatura afetada de Lee Van Cleef. Já os outros dois – o “Bom” (Jung Woo-sung) e o “Bizarro” (Song Kang-ho) – funcionam melhor, talvez por formarem uma dupla, como acontece com Clint Eastwood e Eli Wallach no filme de Sergio Leone. Mas quem rouba a cena mesmo é o “Bizarro”.
É uma diversão descompromissada, que se leva menos a sério do que o título pressupõe pela responsabilidade da referência.
direção: Kim Ji-woon; roteiro: Kim Ji-woon, Kim Min-suk; fotografia: Lee Mo-gae, Oh Seung-Chul; montagem: Na-Young Nam; música: Dalparan, Jang Yeong-gyu; produção: Choi Jae-Won; com: Lee Byung-hun, Jung Woo-sung, Song Kang-ho, Oh Dal-su, Son Byung-ho; estúdio: CJ Entertainment, Cineclick Asia, Barunson, Grimm Pictures; distribuição: Califórnia Filmes.
Informações do DVD brasileiro: tela 16:9 anamórfico, áudio 2.0 (coreano e português). Sem extras.
Editor-chefe e criador do Cinematório. Jornalista profissional, mestre em Cinema pela Escola de Belas Artes da UFMG e crítico filiado à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e à Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema). Também integra a equipe de Jornalismo da Rádio Inconfidência, onde apresenta semanalmente o programa Cinefonia. Votante internacional do Globo de Ouro.