Sorin filma com delicadeza e paciência, mas ao mesmo tempo não se prolonga e faz um filme enxuto, curto (85 minutos) e satisfatório no que quer dizer. A primeira meia hora se preocupa em nos apresentar a Antonio (Antonio Larreta), um escritor cardíaco que aguarda a visita do filho, pianista famoso que vive na Europa, a quem há muito tempo não vê. Também somos introduzidos aos empregados que convivem com aquele senhor. Mas é no momento em que o protagonista se levanta e vai à janela, e vê aquela fazenda enorme, aqueles campos lindos diante de si, que o filme realmente começa a acontecer.
A caminhada de Antonio tem cenas muito belas, tanto pela fotografia quanto pelo sentimento que elas suscitam. Repare que nesse momento o filme se torna todo som também: o vento, o capim, as folhas, os animais. O som, aliás, é um elemento bem trabalhado ao longo de “A Janela” e tem papel importante, já que é o meio de comunicação daquele homem com o que está além das paredes de seu quarto: o piano sendo afinado, os tique-taques do relógio, a louça na cozinha. O som da abelha presa é fundamental também, pois é o que causa o incômodo duplo de ver o animal preso (como ele) e de se sentir irritado mesmo pelo zumbido. Um chamado para uma última aventura.
Sorin volta ao tema da terceira idade, que já havia sido trabalhado por ele em “Histórias Mínimas” – onde existe algo de filme de estrada que contrasta com este “A Janela”. Mas a sensibilidade no tratamento dos personagens, de seus desejos aparentemente mundanos do qual eles dependem para seguir em frente, é um ponto de congruência que suscita a estima em torno de sua obra.
direção: Carlos Sorin; roteiro: Carlos Sorin; fotografia: Julián Apezteguia; montagem: Mohamed Rajid; música: Nicolás Sorin; produção: José María Morales; com: Antonio Larreta, María del Carmen Jiménez, Alberto Ledesma, Emilse Roldán, Roberto Rovira; estúdio: Guacamole Films, Wanda Visión; distribuição: Imovision. 85 min