Apesar de seguir um estilo linear e virtuoso (tendência desta safra inesgotável de filmes sobre músicos brasileiros, numa montagem que combina cabeças falantes + imagens de arquivo + recortes animados), na primeira metade temos um documentário que apresenta ritmo ágil e depoimentos pertinentes de Chico Anysio, Miele, Ziraldo, entre outros que conviveram com Simonal. Mas o que chama a atenção são as gravações de TV que mostram o cantor em ação: aí, tal como fazia com sua platéia, ele domina o filme, quase que “obrigando” os diretores a deixarem apresentações inteiras rolando na tela. É contagiante assisti-lo.
Em um segundo momento, o documentário toma novo fôlego e entra na polêmica que acabou com a carreira de Simonal, transformando-se de biografia em reportagem investigativa. Os diretores Claudio Manoel (membro do grupo Casseta & Planeta), Calvito Leal e Micael Langer deixam claro o lado em que estão, mas não assumem um tom panfletário. O erro do cantor é apontado, mas o que vemos é que Simonal foi vítima de mais um episódio obscuro do regime militar. O principal vilão apontado pelo filme, porém, é a parte da imprensa que tomou papel de juiz e destronou aquele que até então dividia com Roberto Carlos a suprema popularidade nos palcos.
Também é sintoma dessa tragédia o simples fato de que um filme sobre Roberto Carlos provavelmente ganharia os multiplexes em algumas centenas de salas, enquanto “Simonal” entra em cartaz com apenas 24 cópias – sendo a maioria no circuito alternativo. Mas não se engane: “Simonal” é divertido, conscientizador e emocionante. Dá até vontade de sair do cinema cantando “Meu limão, meu limoeiro”. Está mais do que na hora de um revival.
direção: Claudio Manoel, Calvito Leal, Micael Langer; fotografia: Gustavo Hadba; montagem: Pedro Duran, Karen Akerman; música: Berna Cerpas; produção: Lorena Bondarovsky; estúdio: TvZero, Zohar, Globo Filmes; distribuição: MovieMobz. 82 min