Ali é mato, terra, água, insetos misturados a sangue, suor, carne, epitélios, regidos por um transe coletivo que leva ao evento que celebra a putrefação.
É curiosa essa relação que o filme estabelece, porque ao mesmo tempo em que versa sobre a morte, sente-se que há ali vida pulsante. É onde surge outro prazer, o interno, que vemos aqueles personagens sentirem no saciar da fome, no gozo incestuoso, na arritmia da dança dos rapazes, na música brega das Trigêmeas Espaciais, na catarse religiosa.
“A Festa da Menina Morta” é poesia suja, que remete imediatamente ao cinema de Cláudio Assis, mas sem a repulsa. A força e o magnetismo do filme estão no choque, guiado pela câmera-pena de Nachtergaele, da nossa cultura com aquela, tão sincrética e tão particular. Ali, o homem é bicho.
direção: Matheus Nachtergaele; roteiro: Matheus Nachtergaele, Hilton Lacerda; fotografia: Lula Carvalho; montagem: Cao Guimarães, Karen Harley; música: Matheus Nachtergaele; produção: Vânia Catani; com: Daniel de Oliveira, Jackson Antunes, Dira Paes, Juliano Cazarré, Paulo José, Cássia Kiss; estúdio: Bananeira Filmes; distribuição: Imovision. 110 min
Editor-chefe e criador do Cinematório. Jornalista profissional, mestre em Cinema pela Escola de Belas Artes da UFMG e crítico filiado à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e à Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema). Também integra a equipe de Jornalismo da Rádio Inconfidência, onde apresenta semanalmente o programa Cinefonia. Votante internacional do Globo de Ouro.