Em “Atrizes”, Valeria também interpreta a protagonista, o que já denota o caráter pessoal do filme. É interessante observar como a personagem lida com a vida no palco e longe da coxia. Em ambos os lugares, ela luta para conseguir se concentrar, e também para se adaptar a um papel com o qual ela não se identifica.
Enquanto na peça em que trabalha, do dramaturgo russo Ivan Turgeniev, ela precisa encarnar uma personagem difícil, que passa a agir como um fantasma durante os ensaios, em sua vida pessoal essa mulher passa a ser perseguida por outra assombração: o avanço da idade, que fatalmente a impedirá de ter um filho se ela não se apressar, como alerta sua ginecologista. A presença de um divã no centro do palco é emblemática.
Balançando entre o desespero e surtos de alegria de sua personagem, Valeria oferece uma interpretação muito convincente, que sem dúvidas é a melhor coisa do filme, já que sua direção é apenas correta, demonstrando um estilo ainda em formação.
Enquanto se divide em múltiplas funções (ela também ajudou a escrever e a montar o longa), Valeria consegue montar um eloquente, e por vezes divertido, mosaico dos bastidores das artes cênicas – tendo para isso o respaldo de um elenco de peso, com atores de renome do cinema europeu, como Mathieu Amalric, de “O Escafandro e a Borboleta”, Louis Garrel, de “Os Sonhadores”, e Valeria Golino, de “Respiro”.
Embora se perca em alguns momentos, principalmente na segunda metade, quando as ilusões da protagonista começam a se misturar com a realidade para propósitos pouco inspirados, “Atrizes” não deixa de ser uma boa opção, principalmente para quem se interessa por teatro.
direção: Valeria Bruni Tedeschi; roteiro: Valeria Bruni Tedeschi, Noémie Lvovsky, Agnès de Sacy; fotografia: Jeanne Lapoirie; montagem: Valeria Bruni Tedeschi, Anne Weil; produção: Olivier Delbosc, Marc Missonnier; com: Valeria Bruni Tedeschi, Mathieu Amalric, Louis Garrel, Valeria Golino, Noémie Lvovsky, Bernard Nissile; Marysa Borini, Maurice Garrel, Olivier Rabourdin, Laetitia Spigarelli; estúdio: Canal+, CNC, Fidélité Productions, Virtual Films, Wild Bunch; distribuição: Pandora Filmes. 107 min
Editor-chefe e criador do Cinematório. Jornalista profissional, mestre em Cinema pela Escola de Belas Artes da UFMG e crítico filiado à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e à Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema). Também integra a equipe de Jornalismo da Rádio Inconfidência, onde apresenta semanalmente o programa Cinefonia. Votante internacional do Globo de Ouro.