As crianças devem gostar, claro, mas convenhamos que essa é a última desculpa que se deve arranjar para defender um filme infantil. Sem falar que para o diretor de “Pequenos Espiões” esta nova investida no gênero é um ponto baixo na carreira.
Aliás, a trama de “A Pedra Mágica” poderia perfeitamente ter sido adaptada dentro da série “Pequenos Espiões”. Talvez rendesse até um filme melhor, já que os personagens que Rodriguez apresenta aqui não são cativantes e os atores mirins não são talentosos como Alexa Vega e Daryl Sabara. A exceção é a “Bebê”, interpretada pela sobrinha de Rodriguez, Bianca, que, diferente de seus colegas de elenco (até mesmo os adultos, entre eles William H. Macy, James Spader e Leslie Mann), não precisa recorrer a uma careta sequer para nos fazer rir e “compor a personagem”.
É curioso observar também como Rodriguez traz para o filme o conceito da narrativa quebrada, fora da ordem cronológica. Porém, se este é mais um sinal da evolução da linguagem cinematográfica pós-moderna, é também um recurso usado gratuitamente por Rodriguez, já que não há qualquer lógica na estrutura montada – é bem diferente do que Tarantino faz em “Pulp Fiction” ou “Kill Bill”, para citar um colega da mesma geração de Rodriguez.
Mas “A Pedra Mágica” tem alguns bons momentos em duas ou três das historietas (a melhor é a dos irmãos que descobrem a tal pedra do título, que é uma versão da lâmpada maravilhosa de Aladim sem prazo de validade). A ideia de colocar os garotos do prólogo aparecendo ao longo do filme é engraçadinha, mas também é um artifício reaproveitado de outros filmes e não tem muito propósito de acontecer. E, mais uma vez, os atores são ruins.
A impressão que fica é que Rodriguez, aqui, está mais para o Helvecio Ratton de “Pequenas Histórias” equipado com CGI de última geração. A sensação de produção caseira é imperante, o que é sinal de que Rodriguez deveria pensar em deixar de ser o faz-tudo (direção, fotografia, roteiro, montagem, música, produção, até segurar o boom ele deve segurar) e se concentrar no que realmente importa.
direção: Robert Rodriguez; roteiro: Robert Rodriguez; fotografia: Robert Rodriguez; montagem: Robert Rodriguez, Ethan Maniquis; música: George Oldziey, Robert Rodriguez, Carl Thiel; produção: Elizabeth Avellan, Robert Rodriguez; com: Jimmy Bennett, Jake Short, Kat Dennings, Trevor Gagnon, Devon Gearhart, Jolie Vanier, Rebel Rodriguez, Leo Howard, Leslie Mann, Jon Cryer, William H. Macy, James Spader; estúdio: Troublemaker Studios, Imagenation Abu Dhabi FZ, Lin Pictures, Media Rights Capital; distribuição: Warner Bros. 89 min
Editor-chefe e criador do Cinematório. Jornalista profissional, mestre em Cinema pela Escola de Belas Artes da UFMG e crítico filiado à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e à Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema). Também integra a equipe de Jornalismo da Rádio Inconfidência, onde apresenta semanalmente o programa Cinefonia. Votante internacional do Globo de Ouro.