Dois mitos em particular, sustentados pela tradição daquele povoado, interferem diretamente no cotidiano e na saúde da protagonista, a jovem Fausta, que acaba de perder sua mãe. A família acredita que a moça sofre do mal da “Teta Assustada”, doença fictícia que as mulheres estupradas durante a guerra no país acreditavam transmitir para os bebês durante a amamentação. Para piorar, impressionada pelos relatos da mãe sobre todos os maus tratos que sofreu naquela época, Fausta recorre a um método contraceptivo pouco usual e nada saudável para evitar ser violentada também. É praticamente uma morte dupla: a da mãe e a da filha, já que esta recusa a própria natureza da reprodução.
Interpretada por Magaly Solier – uma ótima revelação – Fausta passa o filme enfrentando uma luta interna contra a frigidez sexual que lhe foi infligida, além das dificuldades em conseguir dar um funeral digno a sua mãe. Acompanhar seu drama é curioso de certa forma, mas acima de tudo doloroso. Felizmente, a cineasta Claudia Llosa, em seu segundo longa-metragem, consegue facilitar essa visita para o espectador, com uma direção caprichosa. Praticamente sem usar movimentos de câmera, Llosa prima pela composição muito bem estudada das cenas. Em alguns casos o rigor parece forçado, o que compromete um pouco a naturalidade buscada. Ainda assim, a cineasta permite que o filme respire entre cada corte, o que dá um alívio mais do que necessário sendo o tema tratado tão duro.
direção: Claudia Llosa; roteiro: Claudia Llosa; fotografia: Natasha Braier; montagem: Frank Gutiérrez; música: Selma Mutal; produção: Antonio Chavarrías, Claudia Llosa, José María Morales; com: Magaly Solier, Susi Sánchez, Efraín Solís, Marino Ballón, Antolín Prieto; estúdio: Oberón Cinematográfica, Vela Producciones, Wanda Visión S.A.; distribuição: Paris Filmes. 95 min