A cena acima é de “Diário dos Mortos”, quinto filme da série dos mortos-vivos de George A. Romero, pai desse tão amado subgênero do horror. O filme foi lançado diretamente em DVD no Brasil e já está disponível para compra nas lojas. É mais um inteligente exercício figurativo de Romero, que desde o primeiro longa, “A Noite dos Mortos-Vivos”, de 1968, utiliza o meio para fazer algum tipo de comentário social. Mas em “Diário dos Mortos”, vemos um Romero mais preocupado com o próprio cinema.
Não farei aqui uma resenha do filme, mas apontarei três cenas que demonstram a proposta de Romero. Se naquela primeira sequência o cineasta deixa transparecer uma reflexão reveladora de tão pessoal (é quase como se Scott Wentworth, que faz o papel do professor de cinema, fosse um alter ego de Romero), nos dois trechos a seguir percebemos na voz da atriz Michelle Morgan ponderações que levam a pensar sobre o próprio gênero. Ela diz: “Adicionei música em algumas partes para efeito, esperando assustar você”. Depois, a mais pungente: “Estranho como, vendo as coisas com uma lente, a gente se torna imune. Eu achava que era só vocês, os espectadores, mas não é. A gente se torna imune também. E assim, não importa o que haja ao nosso redor, o quão horrível. Acabamos aceitando tudo como natural.”
Como todo diário é um testemunho particular, não é de se espantar que Romero tenha encontrado aqui a oportunidade perfeita para mostrar um pouco do que pensa sobre seu ofício.
Editor-chefe e criador do Cinematório. Jornalista profissional, mestre em Cinema pela Escola de Belas Artes da UFMG e crítico filiado à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e à Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema). Também integra a equipe de Jornalismo da Rádio Inconfidência, onde apresenta semanalmente o programa Cinefonia. Votante internacional do Globo de Ouro.