Duvido muito que a organização do programa do Chacrinha fosse a bagunça que o produto final apresentado ao público dava a entender. Afinal, por trás de todo caos, há uma complexidade extrema que, de longe, não nos é visível. E este é um ponto que faltou ser abordado pelo documentário “Alô, Alô Terezinha”. Não há preocupação com os detalhes que cercavam os bastidores do programa ou mesmo o método de Chacrinha para comandar o show. O filme se resume a colher depoimentos das chacretes, dos cantores que despontaram no palco com a ajuda de Abelardo e de algumas pessoas que trabalharam com ele, como o veterano assistente de palco Russo.
Não que o conteúdo desses depoimentos decepcione. Pelo contrário, o grande mérito do diretor Nelson Hoineff é a condução das entrevistas (ainda que não precisasse ir tão longe a ponto de pedir para as chacretes vestirem suas antigas roupas de palco). Também jornalista, Hoineff consegue arrancar declarações e confissões inusitadas, algumas que contradizem outras, mas que no fim dão um clima saudável para a intenção do filme: trazer ao espectador um pouco do que acontecia nos bastidores do Cassino do Chacrinha. Só é uma pena que o diretor se concentre nos participantes do programa e não vá mais fundo na pesquisa relacionada à vida pessoal de José Abelardo Barbosa de Medeiros. Pelo menos assim, evita-se o tom biográfico que muitos documentários recentes feitos no Brasil adotam quase que automaticamente.
“Alô, Alô Terezinha” peca ainda pela falta de refinamento na montagem e na organização de algumas sequências (logo no começo já se tem um exemplo, quando Hoineff sublinha de maneira um tanto bruta o fato de um ex-calouro pedir para um homem sem braço bater palmas enquanto ele canta). Além disso, o filme se vê vítima da baixa qualidade das imagens de arquivo mais antigas, que numa tela grande de cinema parecem ainda mais desgastadas. Mas se o que vale é diversão, o documentário proporciona bons momentos, daqueles que só mesmo o próprio Chacrinha conseguia oferecer em seus saudosos tempos de televisão.
direção: Nelson Hoineff; fotografia: Guilherme Süssekind; montagem: Daniel Maia, Felipe Paes, Diana Gandra, Daniela Margutti; produção: Daniel Maia, Paloma Piragibe; estúdio: Comalt, Globo Filmes; distribuição: Imovision. 90 min
Editor-chefe e criador do Cinematório. Jornalista profissional, mestre em Cinema pela Escola de Belas Artes da UFMG e crítico filiado à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e à Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema). Também integra a equipe de Jornalismo da Rádio Inconfidência, onde apresenta semanalmente o programa Cinefonia. Votante internacional do Globo de Ouro.