Informers – Geração Perdida (The Informers, 2009, EUA/Alemanha – Imagem Filmes) Uma frase dita por um personagem de “Informers” define exatamente o tema do filme: “Se ninguém lhe diz o que é bom e o que é ruim, então como saber essas coisas?” O que o diretor Gregor Jordan (“Ned Kelly”, “Guerreiros Buffalo”) e o autor do livro, Bret Easton Ellis, querem dizer é que sem pais, os filhos ficam sem direção. Óbvio, não? Mas não parecia tão claro assim nos anos 80, época em que a trama se passa. Na verdade, tramas, já que apesar de haver claramente uma história principal, protagonizada pelo playboy vivido por Jon Foster, ela é cercada de várias outras que se interligam ao mesmo tempo em que tentam se resolver independentemente. E todas elas lidam de alguma forma com o tema da crise familiar. Porém, o texto de Easton Ellis não diz muito além do que se pode deduzir pela sinopse. O que não deixa de ser decepcionante, já que ele também é autor de “Psicopata Americano” e “Regras da Atração” – este, por sinal, também se passa no anos 80 e gira em torno de personagens jovens, mas Roger Avary, que tem muito mais experiência que Easton Ellis com roteiro (o escritor estreia como roteirista em “Informers”), conseguiu fazer um filme bem melhor. Ou, vai ver, é o livro que inspirou “Informers” que não é bom mesmo. Afinal, não é difícil imaginar que um escritor passe a ser procurado por estúdios depois que emplaca um sucesso logo de primeira, como foi o caso de “Psicopata Americano”. No elenco, nomes de peso como Billy Bob Thornton, Kim Basinger, Winona Ryder e Mickey Rourke – que faz o papel mais sem propósito de todo o filme. nota: 4/10 – não se culpe por não ver
Incendiário (Incendiary, 2008, Reino Unido – Imagem Filmes) Este é daqueles filmes indecisos que não sabem se querem ser um drama, um romance ou, acredite, um suspense. A diretora Sharon Maguire, ausente do cinema desde “O Diário de Bridget Jones”, de 2001, tenta fazer um filme anti-terrorismo ao contar a história de uma mulher (Michelle Williams) que perde marido e filho em um atentado em um estádio de futebol em Londres. O marido (Nicholas Gleaves) trabalha em um esquadrão anti-bomba e, mais casado com o emprego do que com a mulher, faz com que ela busque os braços de outro (Ewan McGregor, que fez dois filmes seguidos ao lado de Williams, o outro sendo o terrível “A Lista – Você Está Livre Hoje?”). Após perder a família no ataque terrorista, ela é acometida pela culpa – é onde você percebe que o filme vai se enveredar pelo drama que ela passará a viver. Mas aí entra o lado meio thriller da história envolvendo a investigação do atentado. Maguire não sabe a qual aspecto do filme quer dar mais atenção e, mesmo que Williams esteja segura no papel, seu arco dramático é prejudicado pela inconstância da narrativa. Curiosidade: este é o filme que Williams estava lançando em Sundance quando seu ex-marido Heath Ledger morreu. nota 5/10 — veja sem pressa
Adoração (Adoration, 2008, Canadá – Sony) Outro filme que trata de terrorismo, “Adoração” é também um filme híbrido. Atom Egoyan dirige esse drama sobre um adolescente (Devon Bostick) que perde os pais num acidente de automóvel. Ele é convencido pela professora de francês e de teatro a fazer um trabalho sobre um atentado do ponto de vista do filho de um terrorista. A questão é que o garoto era filho de um muçulmano que foi vítima do preconceito de seu avô. Egoyan troca a cronologia a fim de tornar o filme intrigante. No fim, como de hábito nos filmes do cineasta, tudo converge e temos a grande revelação. Embora não aconteça nada chocante, tampouco ocorre de o filme guardar algo que justifique a estrutura narrativa adotada. Acaba sendo um filme bem intencionado, mas um tanto pretensioso. O envolvimento do garoto com a internet poderia gerar discussão, mas o próprio Egoyan parece se perder nela. nota: 4/10 — não se culpe por não ver
Ano Um (Year One, 2009, EUA – Sony) Não pode ser verdade que o Harold Ramis que assina a direção deste filme é o mesmo Harold Ramis que fez “Férias Frustradas”, “Feitiço do Tempo” ou mesmo “Máfia no Divã”. Me digam que esse Harold Ramis é um irmão perdido do clã Wayans ou de Robert Schneider. Pois “Ano Um” parece mais uma comédia escatológica na linha de “As Branquelas” e “Gigolô Por Acidente”. É uma lástima ver Ramis banalizando piadas que, nas mãos do Monty Python e de Mel Brooks, renderam filmes inesquecíveis como “A Origem da Vida”, “A Vida de Brian” e “A História do Mundo: Parte 1”. Talvez tenha sido ingenuidade de Ramis confiar o roteiro a dois iniciantes, mas ele mesmo leva a maior parcela da culpa, já que a direção é aquela coisa feita só para mostrar os comediantes fazendo caretas, além de abrir o plano só para mostrar o cenário. Qualquer um poderia ter dirigido. Jack Black é o protagonista, um homem das cavernas que sai do Jardim do Éden (!) e se encontra com figuras bíblicas, como Cain e Abel, Abrãao, entre outros. Uma bobagem sem muito nexo, em que Black tem total liberdade para colocar em prática seus tiques. Michael Cera, que ainda não convenceu, faz pela quinta vez consecutiva o papel do adolescente virgem, tímido e de fala enrolada. O filme foi lançado direto em DVD no Brasil e, desta vez, com razão. Não merecia ocupar espaço nos cinemas. nota: 2/10 — pura perda de tempo
Editor-chefe e criador do Cinematório. Jornalista profissional, mestre em Cinema pela Escola de Belas Artes da UFMG e crítico filiado à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e à Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema). Também integra a equipe de Jornalismo da Rádio Inconfidência, onde apresenta semanalmente o programa Cinefonia. Votante internacional do Globo de Ouro.