Preenchendo a lacuna que a ausência do mocinho deixa na vida de Bella, surge a intensa amizade com o lobisomem Jacob, que é bem retratada no longa. Se levarmos em conta que foi necessário compactar as mais de 500 páginas do livro, pode-se concluir que a roteirista Melissa Rosenberg escolheu bem os momentos vividos pelos dois que deveriam ser priorizados. Mas o diretor Chris Weitz poderia ter dado mais atenção aos sentimentos conflitantes que Bella nutre pelo amigo e a dependência doentia que ela passa a ter dessa relação na ausência de Edward.
Se fizermos uma comparação com o primeiro filme, provavelmente aqueles que se queixaram das poucas cenas de ação ficarão mais satisfeitos. Os efeitos especiais também são melhores e usados com mais frequência. Além disso, a química ente Taylor Lautner (Jacob) e Kristen Stewart (Bella) não deixa nada a desejar à empatia existente entre o casal central da trama (Kristen e Robert Pattinson). Apenas a maquiagem usada para empalidecer os vampiros, embora esteja mais sutil que em “Crepúsculo”, ainda é facilmente perceptível na tela grande do cinema.
Porém, as maiores e mais imperdoáveis falhas da adaptação são de responsabilidade do roteiro e direção. Primeiro: o livro é rodeado de momentos angustiantes que são estrategicamente prolongados pela autora (como o afogamento da mocinha e o resgate de Edward na Itália). Já no filme, essas cenas acabam num piscar de olhos. Tudo acontece e é solucionado tão rapidamente que a capacidade desse tipo de cena de fazer o coração do espectador disparar e a respiração congelar não é suficiente para conter os gritos das adolescentes quando Pattinson aparece sem camisa, por exemplo.
O segundo grande erro é a forma como é retratado o encontro de Bella, Edward e Alice com os Volturi (o clã que compõe a “realeza” vampiresca). A conversa entre os dois lados nessa cena é crucial para a continuação da história nos próximos filmes. Uma importante parte do diálogo foi substituída por uma cena de luta inexistente na obra de Meyer. Também o interesse de Aro (chefe Volturi, vivido por Michael Sheen) por fazer com que o trio se junte a seu clã, cobiçando os poderes dos três (entre eles os que Aro crê que Bella terá após virar uma imortal) é esquecido na cena. Assim, Weitz comete o mesmo erro que Catherine Hardwicke cometeu em “Crepúsculo” ao deixar de explicar a existência dessa realeza no primeiro longa – missão essa que ficou para o atual diretor e foi bem solucionada unindo uma parte originalmente do livro “Crepúsculo” a um momento de “Lua Nova” na mesma cena.
Ao invés de se preocupar em justificar e pautar melhor os acontecimentos, Weitz se concentra em fazer seu espectador se emocionar com o drama da pobre mocinha. E não dá para negar que, com algumas pessoas, a estratégia tem êxito. Mas não é o suficiente para fazer de “Lua Nova” um filme melhor que “Crepúsculo”, embora seja tecnicamente mais bem feito.
Fica agora a expectativa de que “Eclipse” seja um longa melhor, já que o livro é superior aos dois primeiros. É possível esperar também mais cenas de ação e torcer para que dessa vez a angústia criada por elas seja compatível com o que o livro é capaz de causar. Mas, para aqueles que estão cansados de ver a trama sempre girar em torno da relação Bella-Edward, só “Amanhecer” poderá satisfazer, já que o último (e melhor) livro da série explora questões que vão além do umbigo do casal apaixonado.
direção: Chris Weitz; roteiro: Melissa Rosenberg (baseado no livro de Stephenie Meyer); fotografia: Javier Aguirresarobe; montagem: Peter Lambert; música: Alexandre Desplat; produção: Wyck Godfrey; com: Kristen Stewart, Robert Pattinson, Taylor Lautner, Christina Jastrzembska, Billy Burke, Anna Kendrick, Michael Welch, Justin Chon, Christian Serratos, Ashley Greene, Jackson Rathbone, Russell Roberts, Cam Gigandet, Michael Sheen, Nikki Reed; estúdio: Imprint Entertainment, Summit Entertainment, Sunswept Entertainment, Temple Hill Entertainment; distribuição: Paris Filmes. 130 min