Policial, Adjetivo

Policial investiga a atuação de um traficante em uma escola de sua cidade. Ao longo do caso, ele começa a bater de frente com seu superior, que não concorda com a forma que ele lida com a averiguação. Através desta pequena sinopse, um filme poderia ser encarado, em seu primeiro momento, como um policial clássico, permeado por investigações incessantes que levam a conclusões surpreendentes e embates entre o jovem policial e seu incrédulo superior. Mas este não é o caso de “Policial, Adjetivo”, nova produção romena a se destacar no cenário do cinema mundial.

No longa, o trabalho do jovem detetive Cristi passa longe da adrenalina das investigações dos policiais hollywoodianos. É uma função tediosa e burocrárica e “Policial, Adjetivo” quer deixa isto bem claro. A vida íntima de Cristi também nada tem a ver com a dos policiais mostrados nos típicos filmes do gênero. Enquanto estes deixam que o tenso trabalho como policial invada a vida privada e, de alguma forma, envolva a esposa ou filhos, Cristi deixa tudo em seu escritório. Chega em casa, janta, vê TV, conversa com a esposa sobre um vídeo no YouTube, toma banho e vai dormir. Para no dia seguinte continuar com a investigação, composta por ações tediosas ao caminhar atrás do suspeito, pela burocracia dentro da própria instituição e por longos relatos que nada tem a acrescentar ao caso.

Como o próprio título deixa claro, e você perceberá isso no geniais minutos finais do filme, “Policial, Adjetivo” brinca com a ideia do gênero cinematográfico, invenção dos produtores que reúnem as fórmulas “infalíveis” específicas que, eles acreditam, vão atrair o público. Tudo que é visto nas telas é, na teoria, tudo o que um filme clássico policial não poderia ser. Mas “Policial, Adjetivo” é. Com a intenção de ser.



E, como um filme romeno contemporâneo que se preze, a discussão social sobre o país também está por lá. O objeto da investigação de Cristi é um jovem que fuma e compartilha haxixe com os amigos. Ele é considerado um traficante nas leis romenas atuais. Porém, para Cristi, prender este jovem poderia estragar sua vida e tal punição para casos como este já foi eliminada em toda Europa e, mais cedo ou mais tarde, seria eliminada da Romênia, um país que vive, quer avançar, mas que hesita e muito.

“Policial, Adjetivo” percorre seu caminho em um processo que pode ser definido como tedioso por muitos. É um longa difícil de acompanhar. Mas é por causa de alguns minutos que, junto com “4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias”, “A Leste de Bucareste” (de Corneliu Porumboiu, diretor do filme tema deste texto), “Como Festejei o Fim do Mundo” e “A Morte do Sr. Lazarescu”, “Policial, Adjetivo” se destaca como uma pérola romena. Quando Cristi se reúne com o seu superior, favorável à prisão do jovem e avesso aos avanços liberais da Europa em geral, inicia-se uma discussão sobre a Romênia, o cinema, a instituição policial e a cosciência através de significados do dicionário. Esta cena faz todo o filme valer a pena.

 

nota: 8/10 — vale o ingresso

 

Policial, Adjetivo (Politist, adj., 2009, Romênia)
direção: Corneliu Porumboiu; roteiro: Corneliu Porumboiu; fotografia: Marius Panduru; montagem: Roxana Szel; música: Dan Dimitriu; produção: Corneliu Porumboiu; com: Dragos Bucur, Vlad Ivanov, Ion Stoica, Irina Saulescu; estúdio: Coach 14; distribuição: Imovision. 115 min