Remontando a filmes como “Blade Runner – O Caçador de Andróides”, “Matrix”, “Eu, Robô” (que, além de tudo, tem James Cromwell praticamente no mesmo papel) e “A.I. – Inteligência Artificial”, naquilo que nos apresenta a um mundo dominado por máquinas, “Substitutos” ainda antecipa “Avatar”, de James Cameron, por pegar também a ideia do controle do ser humano sobre todas as coisas, inclusive a forma como ele se apresenta à sociedade. E é curioso notar que o diretor é Jonathan Mostow, que assumiu no lugar do mesmo Cameron as rédeas de “O Exterminador do Futuro 3 – A Rebelião das Máquinas” – e não é à toa que alguns momentos remetam à “Exterminador”.
Semelhanças e referências deixadas de lado, é frustrante ver tantas boas ideias serem desperdiçadas na tela. O próprio tema da chamada “ditadura da beleza” passa batido, servindo mais como condição sine qua non do que como comentário social. Por que todos só querem rejuvenescer? Um jovem não poderia querer parecer mais experiente, ganhando algumas rugas? E mais: por que 99% dos personagens optam por serem meras versões de si mesmos, quando poderiam ser qualquer coisa (nem precisa ser uma pessoa, poderia ser um pássaro, por exemplo)? Se pelo menos houvesse uma lei que proibisse a mudança radical de aparência, tudo bem. Mas não há sequer a preocupação de estabelecer regras internas para a história.
São questões que poderiam acrescentar camadas à trama policial clichê que recebe toda a atenção. Até mesmo a ética daquele sistema poderia ser debatida através do programa de vigilância, a la “Minority Report”, mas ele se torna um simples artifício para uma reviravolta besta. Sem falar na piada interna que poderia ter sido feita: colocar os atores coadjuvantes usando substitutos com aparência diferente, mas somente Bruce Willis sendo ele mesmo, por vaidade. Ou então, para usar um pouco de metalinguagem, inserir entre os membros da guerrilha um grupo de ex-dublês que perderam seus empregos em Hollywood para substitutos robotizados dos atores de filmes de ação. O que falta ao filme é mais acidez no humor. Penso que seria bem mais divertido, por exemplo, se Willis assumisse disfarces variados, na forma de outros robôs, durante a investigação.
Apesar dos percalços criados pelos sempre irregulares roteiristas Michael Ferris e John D. Brancato (que, aliás, trabalharam nos dois últimos “Exterminador do Futuro”), Mostow tem mão boa para dirigir filmes do gênero e novamente demonstra uma predileção por histórias apocalípticas. É uma pena que as deixas não tenham sido aproveitadas, pois a mitologia e os temas tocados poderiam até render uma franquia. Que falta faz um Paul Verhoeven, um John McTiernan, ou o próprio Cameron, não?
direção: Jonathan Mostow; roteiro: Michael Ferris, John D. Brancato; fotografia: Oliver Wood; montagem: Kevin Stitt; música: Richard Marvin; produção: Max Handelman,
David Hoberman, Todd Lieberman; com: Bruce Willis, Radha Mitchell, Rosamund Pike, Boris Kodjoe, James Francis Ginty, James Cromwell, Ving Rhames, Jack Noseworthy; estúdio: Touchstone Pictures, Mandeville Films, Lanoue Film Arts, Road Rebel, Top Shelf Productions, Wintergreen Productions; distribuição: Walt Disney Pictures. 88 min