Ficamos sem saber, por exemplo, o motivo de Henry voltar quase sempre para o mesmo lugar: a casa de campo onde sua amada, Clare (Rachel McAdams), vive até a adolescência e onde ele a conhece. Pelo menos, é nisso que o filme se concentra: em mostrar que ele “caiu” naquele local inúmeras vezes, embora possa, sim, ter viajado para outros lugares na mesma proporção. Mas o que dizer, então, sobre Henry ser capaz de visitar o futuro só a partir de determinado ponto de sua vida?
A figura do médico (Stephen Tobolowsky) que Henry procura, e que inclusive dá nome à sua desordem genética, poderia preencher as lacunas deixadas pelo roteirista Bruce Joel Rubin (de “Ghost – Do Outro Lado da Vida, filme que dialoga de certa forma com “Te Amarei Para Sempre”). Mas o doutor desaparece no meio da trama e não tem muita razão de existir, a não ser servir à necessidade momentânea de Rubin de resolver uma situação – e isso se repete várias e várias vezes.
Um caminho mais seguro a ser seguido seria ter feito de Clare a protagonista (afinal, o título original é “A Mulher do Viajante do Tempo”), pois assim a “doença” se tornaria um McGuffin, um pretexto, e o ponto principal seria o drama da garota que passou os anos condicionada a viver apaixonada por aquele homem. De qualquer forma, os buracos no roteiro não se convertem em armadilhas para o espectador – só tiram a possibilidade de se ter uma história mais amarrada e narrada com mais capricho, o que tornaria o filme uma surpresa ainda melhor na temporada.
Erros à parte, este é um bonito romance sci-fi, não só pela boa direção de Robert Schwentke (“Plano de Vôo”) e pelo ótimo elenco, mas por ponderar, sem pieguismo, sobre a condição dos sentimentos humanos perante a passagem do tempo e frente a esse tal de destino. Equipara-se a “Em Algum Lugar do Passado”, de 1980, com Christopher Reeve e Jane Seymour, só que o filme de Jeannot Szwarc possui um texto melhor, assinado pelo grande Richard Matheson, que adaptou o próprio livro. E outra diferença, esta mais a favor do longa de Schwentke, é que “Te Amarei Para Sempre” possui um toque de humor que ajuda a evitar o tom monocórdio que muitas vezes toma conta das histórias de amor.
direção: Robert Schwentke; roteiro: Bruce Joel Rubin (baseado no livro de Audrey Niffenegger); fotografia: Florian Ballhaus; montagem: Thom Noble; música: Mychael Danna; produção: Dede Gardner, Nick Wechsler; com: Eric Bana, Rachel McAdams, Arliss Howard, Ron Livingston, Jane McLean, Philip Craig, Stephen Tobolowsky Hailey McCann; estúdio: New Line Cinema, Nick Wechsler Productions, Plan B Entertainment; distribuição: PlayArte. 107 min
Editor-chefe e criador do Cinematório. Jornalista profissional, mestre em Cinema pela Escola de Belas Artes da UFMG e crítico filiado à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e à Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema). Também integra a equipe de Jornalismo da Rádio Inconfidência, onde apresenta semanalmente o programa Cinefonia. Votante internacional do Globo de Ouro.