“A Bruxa de Blair” deixa de meter medo depois da segunda vez que você assiste ao filme. “Atividade Paranormal” não mete medo nem na primeira. São 90 minutos que levam a um único grande susto. A não ser que você seja uma pessoa fortemente impressionável, nada mais no filme irá fazer você pular da cadeira, mas acredito que, mesmo o espectador sendo mais sensível, lá pela terceira vez em que a porta do quarto dos protagonistas se mexer sozinha, ele já não ficará assim tão assustado.
Este talvez seja o principal defeito do longa: os momentos mais “fortes”, digamos, acontecem dentro do quarto, com a câmera parada num tripé. Ora: reclama-se que em “A Bruxa de Blair”, “[REC]” e “Cloverfield” a movimentação extrema da câmera não nos deixa ver nada. Agora, vemos que o plano estático nos deixa ver tudo e, por isso mesmo, tudo se torna previsível. Ou a porta irá mexer ou o lençol irá levantar ou um barulho virá da escada. Fica fácil assustar assim, jogando algo de diferente na tela depois de tanto tempo de mesmice. E acaba que até mesmo o estilo documental, amador, perde sua aura, já que um detestável efeito sonoro indica a presença da entidade paranormal.
O ponto é que o diretor Oren Peli investe – e com razão – nos personagens, mas parece não saber como se faz um filme de horror. Seria ótimo se “Atividade Paranormal” dissesse algo, trabalhasse um tema, mas fica claro que a intenção do cineasta é só mesmo levar o espectador para uma volta num Trem Fantasma. Em “A Bruxa de Blair”, Daniel Myrick e Eduardo Sánchez fazem as duas coisas: constróem os personagens e suas relações por um tempo até chegarem ao primeiro susto, a partir de onde eles adotam o método Spielberg de pontuar a narrativa com momentos de tensão, em picos de adrenalina que surgem entre intervalos dramáticos. Se você analisar, verá que, mesmo sem levar sustos novamente, “A Bruxa de Blair” é um filme muito bem construído.
Colocados na balança os sustos e os diálogos entre o casal de atores Katie Featherston e Micah Sloat (que são bastante convincentes), “Atividade Paranormal” lembra mais “Mar Aberto” – o filme de tubarão que frustrou muita gente que esperava por suspense absoluto. No entanto, “Mar Aberto” é inegavelmente superior, já que é um verdadeiro estudo de personagem, coisa que “Atividade Paranormal” não é e não pretende ser.
direção: Oren Peli; roteiro: Oren Peli; montagem: Oren Peli; produção: Jason Blum, Oren Peli; com: Katie Featherston, Micah Sloat, Mark Fredrichs, Ashley Palmer, Amber Armstrong; estúdio: Blumhouse Productions; distribuição: PlayArte. 86 min