Edição Especial #3

Edição Especial é uma coluna quinzenal sobre filmes lançados direto em DVD no Brasil ou filmes que passaram pelos cinemas, mas não tivemos a chance de comentar enquanto ainda estavam em cartaz.

Adrenalina 2: Alta Voltagem (Crank 2: High Voltage, 2009, EUA – Sony) Não espere mais que um videogame filmado deste “Adrenalina 2”. Como no primeiro filme, a trama se resume a Chev Chelios (Jason Statham) correndo de um lado para o outro para sobreviver. A diferença é que, se antes ele precisava manter os batimentos cardíacos acelerados para não morrer, devido a um veneno chinês, agora ele precisa buscar diferentes formas de se eletrocutar para manter seu novo coração artificial em funcionamento – até que encontre seu coração de verdade e o transplante de novo para dentro do corpo. É o tipo de história absurda que pede situações absurdas para funcionar. Felizmente, os diretores e roteiristas Mark Neveldine e Brian Taylor mantiveram o mesmo estilo frenético e o humor negro e politicamente incorreto do primeiro filme. Aliás, a primeira tomada desta continuação segue exatamente a última do longa original. É uma comédia de ação acima de tudo e, além da referência à física dos videogames, há uma clara influência do rock punk/metal que transcende a música de fundo e influi diretamente na montagem, como num videoclipe. O resultado é um filme nervoso, mas que não irrita como uma produção tipo Michael Bay. Isto porque Neveldine e Taylor entendem de ritmo, e não me espantaria se eles também fossem músicos. Mas seus pés estão fincados no cinema desde o início da carreira como operadores de câmera e é inquestionável que eles possuem o entendimento da nova dinâmica do espaço imagético (que também demonstraram este ano em “Gamer”), assim como cineastas como os irmãos Wachowski, Robert Rodriguez e, sim, McG. É um cinema contaminado por games, cartoons, internet, TV e pelo estilo audiovisual oriental – e aqui percebemos essa influência asiática na ótima sequência que emula uma briga típica de séries como “Ultraman” ou “Jaspion”. Apesar de “Adrenalina 2” ser mais do mesmo, é um mesmo agradável, que combina entretenimento e vulgaridade numa equação equilibrada. A propósito: este foi um dos últimos filmes de que David Carradine participou. Ele faz uma participação pequena, sob pesada maquiagem, como o novo “dono” do coração de Chelios. nota: 7/10 — vale a locação

A Terra Perdida (Land of the Lost, 2009, EUA – Universal) Guardo a série de TV “O Elo Perdido” em um lugar especial na memória. Creio que se a assistir hoje novamente não irei gostar tanto, mas quando era moleque eu adorava, principalmente pelos efeitos especiais (os dinossauros animados em stop-motion). A versão moderna, que estreou nos cinemas este ano (somente nos EUA, porque no Brasil acaba de sair direto em DVD), parece atualizar somente os efeitos, que agora são em CGI. Já a história e o humor soam ridículos, mas não por força de uma emulação de um estilo datado. Não é uma homenagem, como tanto se faz hoje em dia. O problema talvez seja o espaço em excesso dado a Will Ferrell: o filme pára várias vezes para que o ator faça suas habituais e já desgastadas gracinhas. Se você não compra o tipo de comédia que ele faz, não irá se divertir. E como a trama é besta que só, o que salvaria o filme seria justamente a forma de narrá-la. Ao depositar esse poder nas mãos de Ferrell, Brad Silberling (“Cidade dos Anjos”, “Desventuras em Série”) se limita a fazer o melhor para dar valor ao aspecto visual da produção. E nisso ele se sai muito bem, como de hábito, principalmente em parceria com o diretor de fotografia Dion Beebe (de “Colateral”, “Miami Vice”, “Chicago” e “Memórias de uma Gueixa”). No fim, “A Terra Perdida” é uma reinvenção da série. O que restou do material original foram mesmo as criaturas da dimensão paralela, fielmente reproduzidas para o bem da nostalgia. nota: 5/10 — veja sem pressa



Batalha em Seattle (Battle in Seattle, 2008, EUA/Canadá/Alemanha – Califórnia Filmes) O episódio dos confrontos entre manifestantes e policiais durante a convenção da Organização Mundial do Comércio em Seattle, EUA, em 1999, merecia um documentário à altura de filmes como “A Batalha do Chile” ou “Videogramas de uma Revolução”. Não estou comparando a importância dos fatos históricos, mas sim o modo como esses filmes foram rodados: estilo guerrilha, com câmera na mão infiltrada na ação enquanto ela acontece. Pelo que pesquisei, existem apenas dois documentários sobre o caso de Seattle, e nenhum deles foi lançado comercialmente. Então, o filme de estreia do ator Stuart Townsend na direção é o contato mais fácil que temos com a história na forma audiovisual. Pois bem, Townsend fez um filme razoável. Ele tenta emular aquela característica documental, filmando os confrontos de perto, como se estivesse de fato no meio da multidão. E a não ser pela intromissão dos personagens principais, como a agressão sofrida pela vendedora vivida por Charlize Theron ou o caso de amor mal resolvido entre Martin Henderson e Michelle Rodriguez, o filme se aproxima mesmo do simples registro do confronto. Fica um interesse maior pelas motivações daquilo tudo, pela discussão política, mais do que pelos dramas fictícios presentes no roteiro. Há de se notar também que Townsend se coloca claramente do lado dos manifestantes, o que não é de nenhuma forma errado. Mas já que ele faz questão de ter representantes de cada parte (o prefeito, a dupla policial, a jornalista, a vítima civil, o palestrante etc.) creio que seria necessário ter também, como um dos personagens principais, algum dos vândalos que se aproveitaram dos protestos para praticar violência – fato que foi fundamental para que tudo saísse do controle dos manifestantes e da polícia. nota: 6/10 — vale a locação

Sex Drive – Rumo ao Sexo (Sex Drive, 2008, EUA – Paris Filmes) Seguindo a mesma linha de comédias de estrada e sexo como “Road Trip”, “Madrugada Muito Louca” e “Eurotrip – Passaporte Para a Confusão”, “Sex Drive” tem o protagonista virgem e nerd (Josh Zuckerman), a melhor amiga por quem ele é apaixonado (Amanda Crew) e o amigo que é o improvável garanhão (Clark Duke). Tem ainda o irmão brigão, aqui na pele de James Marsden (que está mais para o Stifler de Seann William Scott em “American Pie”). Estão lá todos os estereótipos e clichês (o roubo do carro, a perda da virgindade, as paixões platônicas, as festas regadas a álcool e sacanagem) desse tipo de filme popular nos anos 80 e que voltou com tudo nesta década pós-“American Pie”. Mas eu não sei o que acontece: mesmo sendo a repetição de uma fórmula, o filme consegue ser divertido. O diretor Sean Anders está pouco se lixando para direção, decupagem ou continuidade. Os erros chegam a ser grosseiros e nem é preciso ser crítico de cinema para notá-los. Mas e daí? Não dá para cobrar muito de um filme que obviamente não foi feito a sério. É pegar as melhores partes e se contentar com elas. Uma curiosidade é a versão “não censurada”, lançada apenas em DVD, que expõe definitivamente o pensamento “divirta-se e esqueça o resto”. Nessa versão alternativa, Anders se vinga de todos os filmes que prometem algo mais e entregam só alguns palavrões e um ou dois pares de seios extras. Mas siga a recomendação: não assista à versão estendida sem ter visto à de cinema. Essa versão é apenas uma grande piada, com direito até a erros de gravação embutidos. nota: 5/10 — veja sem pressa

Caçadores de Vampiros (Blood: The Last Vampire, 2009, Hong Kong/Japão/França/Argentina – PlayArte) Não assisti ao animê de 2000 que inspirou este filme de vampiros (sempre eles), mas é inegável a influência do estilo gráfico na direção de Chris Nahon. Assim como em “O Beijo do Dragão”, seu longa de estreia, com Jet Li, ele novamente utiliza cores fortes na composição de uma ambientação assumidamente irreal. Nas cenas de ação, não faz feio, mas também não consegue não se render ao modismo da câmera lenta que prolonga uma das inúmeras tomadas curtas que formam cada sequência. Mas embora as sequências sejam bem ensaiadas e tudo mais, com o tempo vão se tornando sacais. Aliás, o filme todo parece descer a ladeira depois de causar boa impressão em seus 30 primeiros minutos, quando cabeças rolam e espadas voam de uma maneira surpreendente. Mais que um problema de ritmo, é um problema de narrativa, já que Nahon e o roteirista Chris Chow (que, coincidentemente, também trabalhou com Jet Li, só que em “O Mestre das Armas”) não conseguem despertar muito interesse pela busca da protagonista (Gianna Jun) ou mesmo algum sentimento em relação à garota Alice (Allison Miller). Aliás, nem mesmo a amizade de ambas é explorada em um nível amplo, resumido-se à condição de protetora e protegida. O CGI barato, que parece ter sido desenvolvido no começo dos anos 90, também não ajuda. É uma pena que “Caçadores de Vampiros” tome um rumo tão decepcionante. Poderia ser a redenção dos filmes de vampiros protagonizados por adolescentes. Ainda bem que temos “Deixe Ela Entrar”. nota: 6/10 — veja sem pressa