Viggo Mortensen interpreta o personagem principal, cujo único objetivo é sobreviver e garantir a sobrevivência de seu filho, ainda uma criança. A mãe, papel de Charlize Theron, surge apenas como assombração no único momento de paz do protagonista: o sono. Vagando por lugares inóspitos, mas que ainda detém uma beleza própria das ruínas, esse homem almeja apenas chegar ao Sul, como as aves migratórias, e com sorte evitar ladrões e canibais que rondam as estradas. Já a preocupação do filho é outra: ser bom, não matar, ajudar. Pureza em meio à selvageria transfigurada do homem que reaprendeu a ser bicho.
Ao contrário da ideia de velocidade a que os filmes de desastre ou o próprio título do longa possa remeter, “A Estrada” corre bem devagar, dando a sensação de estar fora de ritmo. Pode ser algo incômodo para o espectador, mas que de alguma forma condiz com a natureza da narrativa. Afinal, é de se esperar que no fim do mundo as coisas fiquem bem próximas do que se vê na tela. Ainda assim, existem cenas de ação, e não é a toa que elas lembram os tiroteios dos faroestes, já que o diretor vem de uma experiência bem sucedida naquele gênero: o poético e visceral “A Proposta”, de 2005, um dos melhores neo-faroestes de sua geração.
É assim que “A Estrada” se insere no rol de filmes-desastre da prole da computação gráfica – que já há duas décadas reprisa e estende os anos 70, época em que a produção de filmes-desastre foi proeminente e ajudou a criar o fenômeno do blockbuster. Em meio a tantos exemplares de gosto duvidoso, em que Roland Emmerich se sai como um Irwin Allen piorado, existem, sim, bons títulos, como “Filhos da Esperança”, “Matrix”, “Extermínio”, “Fim dos Tempos”, “Cloverfield”, “WALL•E”. Isso não é o fim do mundo, não é verdade?