Quentin Tarantino é um cineasta apaixonado. Apaixonado por filmes e por fazer filmes a respeito dos filmes dos quais ele gosta. E ao assistirmos a “À Prova de Morte”, podemos perceber exatamente a diferença entre Tarantino e outros cineastas que fazem homenagens a diretores admirados por eles ou a um filme especificamente. Tarantino se entrega mais a essa paixão, quase como se fosse um adolescente que se veste e fala como seus ídolos. Resultado: temos na tela um filme que tem a roupagem, a atmosfera e as sensibilidades dos filmes de ação exploitation dos anos 70, mas tudo feito de uma forma que não deixa dúvidas de que estamos vendo um filme de Quentin Tarantino. Não é emulação ou imitação: ele consegue fazer daquilo algo novo, mesmo tendo aspecto de coisa velha.
Filme exploitation, vale explicar, é um tipo de filme que foi muito comum três décadas atrás, onde os diretores exploram, ou melhor, abusam de certos aspectos de forma gratuita e sensacionalista, como por exemplo de sexo, violência, personagens negros, zumbis, perseguições de carro e até mesmo torturas nazistas. Tarantino e seu amigo Robert Rodriguez trouxeram esse filão de volta à atênção do público em 2007 com o projeto “Grindhouse”, do qual “À Prova de Morte” é a segunda parte. A primeira é “Planeta Terror”, que tem direção de Rodriguez e segue a mesma linha de filme B de “À Prova de Morte”. Os dois filmes foram exibidos um atrás do outro nos cinemas dos Estados Unidos em sessão dupla, mas acabou que essa estratégia, apesar de bacana, não deu certo e os filmes foram lançados separadamente ao redor do mundo. No caso do Brasil, com um inexplicável intervalo de três anos entre um e outro.
Bom, voltando ao filme de Tarantino, temos ali tudo o que o cineasta já mostrou em seus outros trabalhos. Sua obsessão por pés femininos, por exemplo, está logo na primeira cena. E na sequência temos o cardápio de sempre: referências à cultura pop, trilha sonora escolhida a dedo, violência e, claro, os diálogos estilizados, que aqui acabam sendo o ponto fraco do filme. Pode ser que Tarantino tenha usado as falas de forma gratuita e sensacionalista propositalmente, fazendo assim ele mesmo um “Tarantino exploitation”. Mas se comparados aos diálogos de “Pulp Fiction” ou “Bastardos Inglórios”, os de “À Prova de Morte” ficam para trás, até porque se tornam cansativos. Isso toma quase toda a primeira metade do longa, mas na segunda temos um filme de ação alucinante, capaz de deixar o espectador eufórico na poltrona. Não dá pra dizer que é o melhor Tarantino, mas também não dá pra dizer que não é um filme divertido.