1. Me parece tão descabido pensar que a escolha tem a ver com questões políticas quanto é pensar que o filme foi feito com intenções eleitoreiras.
2. Descabidas são as declarações do presidente da Academia Brasileira de Cinema e integrante do comitê do MinC, Roberto Farias, que deixam implícita a noção de que a escolha pelo filme de Fábio Barreto se deu por causa do status internacional de Lula. Desde quando isso vai influenciar os membros da Academia que votam nesta categoria?
3. Acima de tudo, o que deveria se levar em conta é a qualidade cinematográfica do filme escolhido, independente se vai ser indicado ou não, se vai ganhar ou não. É uma questão de princípios, ainda mais por se tratar de uma comissão que tem em seu corpo nomes como Jean Claude Bernardet, Leon Cakoff, Tata Amaral, Cássio Starling Carlos e o próprio Roberto Farias, que ainda me vem com a pérola: “Votamos no filme que nos pareceu mais bem feito, que honra a cinematografia brasileira”. E a decisão foi unânime.
4. Outra pérola de Farias: “Glória Pires se torna uma excelente candidata ao prêmio de Melhor Atriz”. Uma indicação dessa seria uma mais do que agradável surpresa, mas nunca foi nem será uma aposta. Glória é a melhor coisa do filme, sim, mas daí a projetá-la como candidata a Oscar é excesso de confiança.
5. Felizmente, ninguém falou nada sobre honrar Fábio Barreto ou coisa assim. Primeiro, que o fato de ter dirigido “O Quatrilho”, que foi indicado ao Oscar, não significa que ele será de novo. E segundo, que o fato de ele ter se acidentado não faz dele um cineasta melhor. Ou pior. Ele continua o mesmo.
6. Enfim, não guardo muitas expectativas quanto à indicação. Acho que ficará para o próximo ano mais uma vez. Eu apostava em pelo menos outros cinco filmes: “A Suprema Felicidade”, do Arnaldo Jabor (não vi ainda, mas tem peso); “As Melhores Coisas do Mundo”, da Laís Bodanzky; “Cabeça a Prêmio“, do Marco Ricca; “Hotel Atlântico“, de Suzana Amaral; e “Bróder”, de Jeferson De (não vi ainda, mas já ganhou Gramado e foi bem em Paulínia, tem peso também). Até “Chico Xavier” eu achava que seria uma escolha mais sensata (ou esperada) que “Lula” por tudo que já foi dito sobre o filme de Daniel Filho e pelo momento que nosso mercado atravessa.
Segue o press-release do MinC:
“Lula, o Filho do Brasil” é escolhido por unanimidade para concorrer à indicação ao Oscar 2011
Pela primeira vez, Comissão de Seleção é ampliada para incluir representantes indicados pela sociedade civil
Brasília, 23 de setembro de 2010 – O presidente da Academia Brasileira de Cinema, Roberto Farias, anunciou que, por opinião unânime da Comissão de Seleção, o longa-metragem “Lula, o Filho do Brasil” (dir. Fábio Barreto; Brasil, 2009) vai concorrer a uma indicação à categoria Melhor Filme em Língua Estrangeira na 83ª Premiação Anual promovida pela Academy of Motion Picture Arts and Sciences – Oscar 2011. A decisão foi divulgada no final da manhã desta quinta-feira (23), na Cinemateca Brasileira, em São Paulo.
“Votamos no filme que nos pareceu mais bem feito, que honra a cinematografia brasileira e tem como atriz Glória Pires, que se torna uma excelente candidata ao prêmio de Melhor Atriz”, explicou Roberto Farias. “Nossa posição não tem nenhuma ligação política. Lula é uma estrela aqui e fora daqui, internacionalmente conhecida”, completou.
Agora, o filme concorrerá com produções de mais de 95 países à indicação final. Os cinco longas selecionados para concorrer ao Prêmio de Melhor Filme em Língua Estrangeira serão anunciados em 25 de janeiro do próximo ano. A cerimônia de premiação será realizada no dia 27 de fevereiro de 2011.
Ao todo, 23 filmes brasileiros disputaram a chance para tentar uma vaga em um dos prêmios mais cobiçados da sétima arte foram: “A Suprema Felicidade”, “Antes que o Mundo Acabe”, “As Melhores Coisas do Mundo”, “Bróder”, “Carregadoras de Sonhos”, “Cabeça a Prêmio”, “Cinco Vezes Favela – Agora Por Nós Mesmos”, “Chico Xavier”, “É Proibido Fumar”, “Em Teu Nome”, “Hotel Atlântico”, “Lula, o Filho do Brasil”, “Nosso Lar”, “O Bem Amado”, “O Grão”, “Olhos Azuis”, “Os Inquilinos”, “Os Famosos e os Duendes da Morte”, “Ouro Negro”, “Quincas Berro D’água”, “Reflexões de um Liquidificador”, “Sonhos Roubados” e “Utopia e Barbárie”.
Comissão de Seleção
Este ano, pela primeira vez, a Comissão de Seleção foi ampliada e o Ministério da Cultura não foi a única instituição a indicar os membros dessa comissão que escolheu o concorrente brasileiro. O grupo é composto por nove representantes, indicados pela Academia Brasileira de Cinema (ABC), Agência Nacional de Cinema (Ancine) e pelo Ministério da Cultura (MinC). Veja a lista:
Nome / Perfil / Indicado (a) por
Roberto Farias / Cineasta, presidente da Academia Brasileira de Cinema / ABC
Clélia Bessa / Produtora de cinema e professora da PUC-RJ / ABC
Elisa Tolomelli / Produtora, diretora e roteirista de cinema / ABC
Mariza Leão Salles de Rezende / Produtora de cinema e presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Audiovisual do Rio de Janeiro (SICAV) / ABC
Leon Cakoff / Crítico de cinema, criador e diretor da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo / Ancine
Márcia Lellis de Souza Amaral (Tata Amaral) / Cineasta / Ancine
Cássio Henrique Starling Carlos / Jornalista e crítico de cinema / MinC
Frederico Hermann Barbosa Maia / Assessor do Ministério da Cultura / MinC
Jean Claude Bernardet / Cineasta, crítico cinematográfico, escritor, teórico e professor da UnB e da USP / MinC